terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Mosqueiro pede socorro

E-mail recebido pela Associação Cidade Velha-Cidade Viva, atendendo a solicitação de Eduardo Brandão, morador de Mosqueiro, para divulgarmos e refletirmos sobre a situação do patrimônio cultural de Belém e nos mobilizarmos para a preservação do mesmo, fazendo denúncias e cobrando atitudes das autoridades dessa cidade, deste Estado e desta região.

Caros amigos,
Todos sabem o carinho que tenho com Mosqueiro, não é por acaso que optei morar neste lugar.
Inconformado com tanta incompetência e irresponsabilidade resolvi colocar por escrito um depoimento que que reflete o meu sentimento nesse momento.
Conto com o apoio de vocês repassando o texto abaixo:

Porque 2011 e 2012 precisam passar rápido em Mosqueiro.

Com a passagem de um ano para outro costumamos fazer uma reflexão sobre o que passou e o que virá. Para nós, em Mosqueiro, o resultado desta reflexão em nada é animador. Um conjunto de desmandos, omissões e desatinos das últimas administrações formou um cenário que vem
provocando um grande desalento para moradores, empresários e visitantes, principalmente àqueles que nutrem um sentimento responsável pelo futuro de um lugar que vem encantando gerações. Não é por acaso que presenciamos a mobilização de muitos para eleger Mosqueiro uma das 7
Maravilhas do Pará.
Sabemos que no seio de nossa sociedade existem diversas pessoas que só querem tirar proveito dos valores que um lugar oferece e quase nada fazem para retribuir o que recebem de bom. Costumo chamar esses indivíduos de
cidadãos gafanhotos, depois de destruir a folhagem de um vegetal partem para outro e desta forma se transformam em verdadeira praga, acreditem, uma praga humana. Porém é na administração pública, onde pagamos os salários de indivíduos para promover o bem comum, que enfrentamos nossos maiores problemas.
Numa região, como o norte do Brasil, onde o percentual de domicílios atendidos por sistema de tratamento de esgoto dificilmente ultrapassa 5%, Mosqueiro está perdendo a oportunidade de ter mais de 60% de seus domicílios com seus esgotos tratados. Tudo porque a atual administração,
alegando problemas na execução da obra na administração anteriorabandonou os mais de dez milhões de reais investidos pelo cidadão contribuinte. As bombas das estações elevatórias foram danificadas,
roubadas e nenhuma manutenção foi dada. O resultado é a rede afogada e as casas que se ligaram nos sistemas enfrentando o refluxo. Para justificar tal fato os agentes públicos divulgam que a tubulação utilizada foi
sub-dimensionada, quando sabemos que tudo não passa de uma estratégia para atingir a administração anterior que também teve as suas falhas.
Com a aprovação do novo Plano Diretor de Belém, áreas de Mosqueiro foram definidas como de interesse a preservação. Contrariando este dispositivo, a administração municipal vem autorizando o funcionamento da atividade de exploração de areia em áreas que deveriam estar protegidas.
Estudo realizado pela UFRA aponta a atividade mineradora (areia, barro e pedra) como responsável por mais de 80% do desmatamento em Mosqueiro, contrariando a tese de que os assentamentos rurais é que mais desmatam. A última área decretada como Unidade de Conservação em Mosqueiro foi em 1983, de lá até hoje nenhuma outra, apesar de haverem estudos e dispositivos legais que apontam essa necessidade.
Para proteger áreas das orlas das praias e demais ilhas do Município de Belém, o Plano Diretor considerou área non aedificandi a faixa mínima de cem metros, a partir da linha de maior preamar. Desrespeitando o dispositivo legal, mais uma vez a administração municipal vem se omitindo
ao não fiscalizar as irregularidades e até autorizando a construção de equipamentos em diversas praias de Mosqueiro.
Todos sabemos a importância dos casarões construídos na orla de Mosqueiro. Exemplares onde os traços da arquitetura européia se evidenciam, ilustram com muita propriedade a forma de ocupação nas primeiras décadas do século passado e em cada um deles lembranças estão gravadas em suas estruturas. Lamentavelmente não são alvos de uma
política pública de preservação do patrimônio histórico e cultural por parte da administração municipal. Muito pelo contrário, o que estamos presenciando é a destruição gradual desses imóveis, entre eles o imóvel localizado na praia do Bispo que pertence à Prefeitura de Belém.
Da mesma forma que os casarões, os sítios da baía do Sol que remontam do período Pombalino, estão cada vez mais esquecidos. A fábrica Bitar, primeira a produzir pneumáticos no Brasil ainda está de pé porque a família vem mantendo a propriedade, mas poucos são aqueles que conhecem
este fato. Estrutura centenária como a capela do Chapéu Virado está preservada graças às ações da igreja católica. O mesmo não se pode dizer com relação ao trapiche da Vila que se encontra deteriorado. Como podemos falar em qualificar a atividade turística e aumentar a auto-estima
do mosqueirense com os valores históricos vazando pelo ralo sob os olhares incompetentes dos gestores públicos.
O turismo, sempre apresentado pelos políticos de plantão como prioridade, vem se desenvolvendo graças ao empenho e até teimosia de alguns empreendedores locais que insistem em manter seus investimentos. A associação Pró-Turismo de Mosqueiro elaborou um Plano de Desenvolvimento
Integrado para a atividade no Distrito. Infelizmente nunca foi assumido pelo governo local que permanece perdido em ações pontuais, desarticuladas e sem o impacto positivo que todos esperam, é lamentável o despreparo dos gestores.
Muitos são os logradouros onde aqueles que possuem propriedade precisam aterrar, capinar e abrir valas para que os veículos possam transitar, pois os responsáveis pela administração municipal, mais uma vez, fingem que o
problema não é com eles. A maioria das ruas que foram asfaltadas não teve o seu sistema de micro drenagem regularizado, o resultado são os alagamentos e deterioração rápida do serviço realizado.

Recentemente Mosqueiro foi palco para muitas famílias festejarem a chegada do Ano Novo na beira da praia. A enseada do Farol e Chapéu Virado foi a
mais concorrida e a festa muito bonita. O aspecto negativo ficou por conta da Agência Distrital e da Secretaria de Urbanismo que não deram manutenção no sistema de iluminação pública deixando a praia as escuras e as famílias vulneráveis às ações de assaltantes.
Tenho a convicção de que as situações relatadas são apenas algumas que ilustram o despreparo e a falta de interesse dos gestores que no momento são responsáveis pela Prefeitura de Belém. Enquanto nosso prefeito não cria vergonha, pede desculpa ao eleitor que nele confiou e pede para sair,
resta-me torcer para que os anos de 2011 e 2012 passem logo e um novo grupo assuma a Prefeitura. Do contrário o estrago provocado poderá ser irreversível.  


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Prof. Eduardo Brandão
Belém, Pará, Brasil.

Um comentário:

  1. eu gostaria de saber sobre a construção desse casarões de mosqueiro em que época foi construída e por quem? vc esta apenas falando da atual condição e não o valor cultural que ele representão.

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