quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sociedade pode opinar sobre inscrição do Bumba-meu-boi como patrimônio cultural

O Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) abriu prazo para a manifestação da sociedade sobre o pedido de inscrição do Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão no Livro de Registro das Celebrações. A categoria faz parte do Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem patrimônio cultural brasileiro.
A proposta de registro do Bumba-meu-boi do Maranhão como Patrimônio Cultural do Brasil foi apresentada pela Comissão Interinstitucional de Trabalho. O grupo é composto pela Superintendência do Iphan no Maranhão, Secretaria de Estado de Cultura, Fundação Municipal de Cultural, Comissão Maranhense de Folclore, Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular da Universidade Federal do Maranhão, representantes dos Grupos de Bumba-meu-boi dos Sotaques da Baixada, Matraca, Zabumba, Costa-de-mão, Orquestra e de Bois Alternativos e representantes e membros de grupos de Bumba-meu-boi e da comunidade.
O Bumba-meu-boi é uma festa tradicional onde a figura do boi é o elemento central. Reúne também outras manifestações culturais e, por isso, é chamado de complexo cultural. Muitas vezes definido como um folguedo popular, o Bumba-meu-boi extrapola a brincadeira e se transforma em uma grande celebração tendo o boi como o centro do seu ciclo vital e o universo místico-religioso. Profundamente enraizado no cristianismo e, em especial, no catolicismo popular, o Bumba-meu-boi envolve a devoção aos santos juninos São João, São Pedro e São Marçal.
Os cultos religiosos afrobrasileiros do Maranhão também estão presentes na celebração, como o Tambor de Mina e o Terecô, caracterizando o sincretismo entre os santos juninos e os orixás, voduns e encantados que requisitam um boi como obrigação espiritual.
As manifestações sobre o registro da candidatura devem ser enviadas, dentro do prazo de 30 dias – a contar a partir da publicação no Diário Oficial da União (24 de junho) -, por correspondência, para o novo endereço da presidência do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural – Presidente – SEPS, 713/913 bloco D, Edifício Lucio Costa, 5º andar – Brasília – Distrito Federal – CEP: 70390-135.

Fonte: Ministério da Cultura
Portal Brasil, 29/06/2011, Noticias.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Museus à espera do primeiro visitante

No livro de registro de visitas do Museu de Arte de Belém (Mabe), as assinaturas de pessoas de diversas partes do mundo estão em maioria. As de Belém ou outros municípios muitas vezes ainda estão em tom de brincadeira, fazendo alusão a personagens ou pessoas famosas. Apesar de possuir diversos museus na capital, muitos belenenses nunca sequer entraram em um deles.
No Mabe, nem sempre as exposições atraem a atenção do público. A arquiteta Tatiana Lima afirma que o museu possui um grande acervo de móveis e imagens, peças importantes da história da cidade. Ela confirma que a maioria dos visitantes vem de outras localidades. “Quem visita mais são os turistas, mas também temos muitos estudantes que vêm em caravanas de colégios”, afirma.
No Museu de Arte Sacra, na Igreja de Santo Alexandre, o movimento é maior, mas não é difícil perceber que muitos são oriundos de outras cidades. O professor Cláudio Cavalcante veio de Porto Alegre. “É um museu muito bonito e deve servir de orgulho para o povo daqui”, elogia. A estudante Camila Silva confessa não conhecer muito os espaços dedicados à arte na capital. “A gente nem se liga muito que existem esses museus, não conheço muitos, não”, diz. “Às vezes, as pessoas acham que só vão encontrar coisas antigas, não tão interessantes”, completa a jovem Márcia Moraes.
Bem próximo dali está o Museu do Encontro, abrigado no Forte do Presépio. A maioria dos visitantes presentes é composta por crianças, vindas em excursões promovidas por colégios. Saint-Clair Dias, técnico em gestão cultural e educador do espaço, é o responsável em apresentar a exposição aos visitantes. “Quando tem divulgação, percebemos um aumento maior de visitas. Muita gente não sabe que o museu existe, que existem pessoas capazes de facilitar a leitura do espaço”, conta.
DATAS ESPECIAIS
Segundo Dias, a presença de turistas é melhor percebida em épocas festivas na cidade. “Na época do Círio, Ano Novo e de grandes congressos, muitos visitantes são turistas”. A arquiteta e geóloga Rosângela Britto, professora do curso de Museologia da Universidade Federal do Pará (UFPa), afirma que muitas pessoas têm até receio de entrar nesses espaços. “Este panorama é um problema nacional. Muitas pessoas têm a ideia de que museu é só relíquia, lugar de coisas velhas”.
De acordo com Rosângela, alguns incentivos já são disponibilizados na tentativa de atrair mais visitantes para os espaços, como entradas gratuitas às terças-feiras e para grupos agendados de estudantes. Os museus mais visitados de Belém são o Corveta Museu Solimões, o Museu do Encontro e o Museu de Arte Sacra.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Cordões de pássaros amargam falta de incentivo

Uma arte que vem do povo, para o povo. As fantasias dos personagens, cuidadosamente costuradas e bordadas à mão pela própria comunidade, ganham vida no período da quadra junina, como um dos espetáculos mais antigos da região. De acordo com alguns estudos, a tradição dos Pássaros - como uma opereta e mais recentemente com uma roupagem carnavalizada (cordões de pássaros) - é uma manifestação exclusiva do Pará. Se não bastasse, os Pássaros surgiram influenciados pela criação de um dos principais ícones da cultura local do tempo da Belle Époque, o Theatro da Paz.

Diretamente entusiasmado pelas companhias europeias de teatro, que frequentemente vinham a Belém, o próprio povo resolveu criar um espetáculo popular, com características típicas das operetas do Velho Continente.

Os Pássaros Juninos atravessam décadas para recentemente mostrar aos próprios paraenses que são fortes e pertencem às riquezas do Estado. Após anos de abandono, vários pesquisadores resolveram estudar o tema. Dentre as teses já escritas sobre essa manifestação cultural, está o projeto de doutorado de Margareth Refkalefsky, que abordou a função dramática do figurino dos Pássaros na capital paraense. “O que eu pude constatar é que se trata de uma expressão cultural riquíssima e pouco valorizada. Acho que não existe em nenhum outro lugar do Brasil um teatro popular tão elaborado, onde desde o diretor até o figurinista são pessoas da comunidade. Além disso, é um teatro com codificações incríveis, principalmente em termos de figurino”, ressaltou Margareth.

Em seu estudo, ela constatou que os Pássaros, apesar de muito antigos, usam elementos modernos nos seus métodos de interpretação. “Por incrível que pareça, os Pássaros são muito atuais, pois misturam drama, comédia e outras categorias em um só espetáculo. Eles fazem uma apresentação híbrida. Em termos técnicos, os Pássaros possuem um código que poucos teatros no mundo têm. Através das estampas das roupas, o público sabe quando a cena se passa na floresta, ou no castelo, por exemplo. E o mais legal é que a cada ano que passa, os grupos rememoram os textos antigos, porém com uma contextualização atual. Eles sempre atualizam esses textos para questões contemporâneas”, revelou a doutora.

Porém, apesar de tanta relevância, os Pássaros andam esquecidos. “Até alguns anos atrás, Belém possuía uma das melhores festas juninas do país. Era de uma diversidade enorme, tinha Pássaros, quadrilha, fogueira, boi, forró... Hoje o incentivo é pouco, os grupos de Pássaro que ainda restam precisam ensaiar nos quintais de casa, vão comprando as fantasias aos poucos e quando dá. Antes eles tinham um espaço para se apresentar, hoje eles quase não possuem. O Amazonas soube aproveitar as suas tradições, a exemplo de Parintins. Se soubéssemos usar a nossa, todos sairiam ganhando”, explicou.

Dos mais de cem grupos, restam 18 

Por si só, o Pássaro Junino já é uma modalidade como poucas, pois mistura teatro, música, dança e literatura, com lições de humanidade e respeito à natureza. Em um levantamento recente realizado pelo Instituto de Artes do Pará (IAP), foram identificados 18 grupos em atividade na Grande Belém. O enredo é muito parecido. Trata-se de um pássaro desejado pela nobreza. Por conta disso, ele é caçado e ressuscitado por um pajé. Normalmente o melodrama à fantasia dura uma hora. O valor cultural dos Pássaros é tão grande que, por lei, são considerados patrimônio cultural de natureza imaterial do Estado.

Seu Wanderley Rodrigues é guardião do ‘Pássaro Rouxinol’ há 11 anos. Trata-se de um dos grupos mais antigos desta modalidade, já que o ‘Rouxinol’ possui 104 anos. “Foi criado pelo senhor Joaquim Pontes no século passado. Surgiu no bairro do Umarizal e hoje é feito na Pedreira. Para fazermos as apresentações, cerca de 58 pessoas são diretamente envolvidas, contando com os músicos. Fora a isso, ainda há os que trabalham na construção do espetáculo, como costureiras, bordadeiras, estilista, sapateiro”, ressaltou. Porém, apesar dos muitos prêmios colecionados pelo grupo, é possível que o ‘Rouxinol’ esteja próximo do fim.

“Nós fazemos porque amamos. Se algo não for feito, os Pássaros vão se acabar. No passado eram mais de 100 grupos, hoje são menos de 20. Eu mesmo pensei em desistir de fazer a apresentação neste ano, pois é tudo muito complicado, o incentivo é pouco e acaba que não se consegue nem pagar os prejuízos. Só iremos sair nesta festa junina porque meu tio, um brincante fiel, veio a falecer. As apresentações serão em homenagem a ele”, explicou o guardião. Segundo ele, é uma tradição que foi repassada pelos antepassados. “Minha avó era guardiã em 1985, tenho essa paixão pelo Pássaro nas veias”, explicou. (Diário do Pará)

Fonte: www.diarioonline.com.br 20/06/2011

sábado, 18 de junho de 2011

A supressão das grades do Juliano Moreira

Ninguém contribuiu mais que o médico Dorvalino Braga para que o prédio do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira estivesse, hoje, incorporado à História da Cultura do Pará. Ao longo de 60 anos, Dorvalino contribuiu não só para inserir o prédio definitivamente na História da Psiquiatria do Pará, como diretor do hospital. Quando já havia deixado aquele cargo, ele contribuiu também, como simples cidadão, para a preservação da memória do Juliano Moreira, após a demolição dele, em 1984. Por causa de um detalhe arquitetônico - as grades nas janelas -, o prédio do hospital já fazia parte das inquietações de Dorvalino, dez anos antes de ele iniciar, em 1955, a primeira de suas três gestões na direção do Juliano Moreira.

Ainda aluno de Medicina, ele se sentia incomodado com aquelas grades, numa reação que prenunciava sua atuação posterior, como médico. “Quando eu passava em frente ao prédio do Juliano Moreira, me chocava o espetáculo deprimente dos doentes pendurados, como bichos, nas grades do hospital”, confessou Dorvalino, há um mês, num depoimento ao Grupo de Memória da Engenharia, da UFPA. Dorvalino chegou a iniciar um programa de mudanças no hospital,quando foi empossado na sua direção, poucos anos depois de se formar. Porém, “por razões políticas” o programa foi interrompido, como ele explica num relato escrito para o livro “História, Loucura e Memória – O acervo do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira”, editado pela Secult, em 2009.

Depois do afastamento de Dorvalino, o hospital foi abandonado, o que quase antecipou a destruição dele, ocorrida só em 1984. “Seguise um período de declínio, com sucessivas mudanças de direção, determinadas por injunções políticas, desacertos administrativos de consequências calamitosas para os doentes - que, em 1962, revoltados, tentaram incendiar o hospital”, registrou Dorvalino, naquele relato.

Enquanto isto acontecia no hospital, o próprio Dorvalino seguia uma rota em sentido oposto. Beneficiado com uma bolsa de estudos no centro psiquiátrico mais importante do país, naquele momento, o Hospital Dom Pedro II, do Rio de Janeiro, Dorvalino tratou de melhorar o quanto possível sua capacitação profissional. Ele estava consciente dos preconceitos contra doentes mentais, dentro da própria área médica, que dificultavam o trabalho dos psiquiatras, no Pará. “Os doentes mentais viviam alijados da Medicina. Ninguém se interessava por eles”, revelou Dorvalino no depoimento.

O Hospital Dom Pedro II estava sob direção de Odilon Galotti, um psiquiatra respeitado internacionalmente. Foi ele quem traduziu para o Português as obras completas de Freud, publicadas em 10 volumes pela Editora Delta.

Hoje, o médico é nome de rua em Florianópolis. Dorvalino teve a sorte de contar durante seu estágio com bons professores argentinos, e, com uma excepcional professora brasileira, Nise da Silveira. Ela fora perseguida pela ditadura de Getúlio Vargas, depois de 1937. Se tornara companheira de prisão de Graciliano Ramos, que fez dela personagem de “Memórias do Cárcere”, Nise combatia bravamente as formas de tratamento psiquiátricos agressivos utilizados na época. Especialmente o confinamento dos pacientes e as terríveis lobotomias que tornava os pacientes meros espectros humanos. Apoiado nestes professores, Dorvalino aprofundou mais sua repulsa pelas grades do Juliano Moreira. “Durante aquele ano, no Rio de Janeiro – disse ele, em seu depoimento –, vivi exclusivamente para estudar”.

Quando Dorvalino retornou ao Pará, ocorreu o Golpe Militar de 1964. E, num episódio típico da época, ele foi nomeado, pela segunda vez, diretor do Juliano Moreira, pelo líder dos golpistas no Pará, Jarbas Passarinho, sem sequer ser consultado. Com bom humor, Dorvalino conta que a portaria da nomeação lhe foi entregue em sua residência, de surpresa, por Eleison Cardoso, diretor da Divisão de Saúde Federal, no Pará, num momento inesquecível, para ele, por sua total inconveniência. Dorvalino se encontrava acamado, tentando resistir às dores da mordida de uma arraia.

Quando pôde conversar com o governador Jarbas Passarinho, empossado pelos golpistas, após a deposição de Aurélio do Carmo, Dorvalino logo mencionou sua intenção de retirar as grades do Juliano Moreira. Jarbas aconselhou-o a retirá-las aos poucos, para não gerar reação entre os políticos e na imprensa. Uma recomendação de prudência que Dorvalino simplesmente ignorou. “Entrei como um tufão na direção do hospital. No dia seguinte ao da minha posse, mandei tirar todas as grades”. Aquela alteração no Juliano Moreira - pequena, do ponto de vista arquitetônico -, ganhou uma dimensão histórica que tornou maior a perda total do prédio do hospital, em 1984. A alteração serviu para documentar, no prédio, a mudança dentro da História da Psiquiatria do Pará. Os pacientes do hospital ficaram livres do confinamento num momento de crise da democracia brasileira, quando Nise Silveira voltou a ser perseguida. E, paraenses, como Ruy Barata, Benedito Monteiro e Raimundo Jinkings foram colocados atrás de grades de prisões. Iguais às que existiram no Juliano Moreira. (Diário do Pará, coluna de Oswaldo Coimbra)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Documentário mostra ervas e saberes da Amazônia

Enquanto a pequena multidão se dispersa em motos e bicicletas, Irandilva Miranda Dantas, 61, vê se formar uma fila na saída da modesta igreja de São José, centro de Soure, na Ilha do Marajó. Na manhã nublada de sábado, é com paciência e simpatia que ela recebe cada um dos incontáveis abraços pelo seu aniversário, comemorado na tarde anterior em uma festa animada na sede do centro comunitário da cidade.
Dona Roxita, como Irandilva é chamada desde pequena devido ao tom escuro da pele, é uma espécie de referência na região. Assim que a noite cai, abre as portas da própria casa para muitos daqueles que compartilham com ela o mesmo banco de igreja pela manhã, para o que chama de “sessões de cura”, em que ela conta com a ajuda de raízes, folhas e ervas para sarar gente que sofre dos mais variados males.
“Muitos sentem alergias e dores no corpo, tomam remédio e não ficam bons. Então preparo unguento, chazinhos. As pessoas são curadas pelas ervas, por Deus e pela espiritualidade. Foi assim que curei meu pai aos cinco anos”.
Dona Roxita é uma das personagens do documentário “Ervas e Saberes da Floresta”, da paraense Zienhe Castro. O filme, em fase de montagem, mergulha num universo complexo de valores e tradições místicas para investigar o uso de ervas medicinais na Amazônia. 
As filmagens, iniciadas em maio, percorreram Belém, Santarém, Oriximiná, Igarapé Miri, São João de Pirabas e Ilha do Marajó. Durante todo o trajeto, a equipe ouviu pesquisadores, médicos, erveiras e mateiros, e testemunhou um fluxo de transmissão de conhecimentos tradicionais que desafia o tempo e as descobertas farmacológicas.
“Sempre tive a intenção de contribuir com o debate crítico em torno da cultura amazônica”, diz a diretora. “Estudar os saberes tradicionais e o uso de ervas, referências culturais de todo paraense, está nesse bojo. A maioria de nós nasceu tomando chazinho e banho de cheiro, além da convivência com o Ver-o-Peso e toda essa atmosfera. Minha intenção é falar de temas pertinentes à nossa região e que estão se perdendo lentamente, tornando-se cada vez mais distantes das novas gerações”, explica Zienhe.

Pesquisa consumiu sete anos


No filme, que tem lançamento previsto para o final deste ano, muitas histórias se entrelaçam. Histórias de mulheres fortes, empenhadas diariamente em manter viva a tradição - como Maria de Jesus Pantoja Salles, a Dona Quinina, 66. Não é fácil chegar até sua casa, na comunidade do Céu, em Soure. É preciso vencer 14 quilômetros de lama - primeiro de carro, depois a pé, em pontes improvisadas e estradinhas de terra.
Sentada à sombra de uma árvore, no amplo terreno que circunda sua casa, ela falou sobre sua relação com as plantas e a cura com ervas, e lamentou que esta prática esteja caindo no esquecimento. “As coisas antigas, ‘tudo se perdeu’. Os mais novos não querem se preocupar em ‘prantar’, não querem aprender com os mais velhos”, disse. “Aprendi muito com minha mãe, minha avó. Já curei um apêndice com casca de barbatimão, que é boa pra inflamação, pra tudo, assim como a folha do hortelã grande. Minha mãe de leite ensinava os remédios e eu fazia pros meus filhos. Criei 12 assim. O que é dos médicos, é dos médicos. Mas o que é das ervas, ah, é delas”, ensina.

Percurso
“Ervas e Saberes da Floresta” classificou-se entre os 100 melhores roteiros cinematográficos do Brasil para documentários no edital do Ministério da Cultura e também entre os 20 roteiros selecionados pelo edital de audiovisual do Programa Petrobras Cultural em 2010.
Segundo Zienhe Castro, a pesquisa para realização do filme consumiu sete anos. Neste percurso, ela contou com a contribuição valiosa do professor Wagner Barbosa, da Faculdade de Farmácia da UFPA, que atua como mediador das rodas de conversa que costuram todo o filme.
“No Brasil nos últimos dez anos, mais ou menos, houve um avanço considerável na política de plantas medicinais e fitoterápicos”, aponta Wagner, que é autor do livro “Etnofarmácia: fitoterapia popular e ciência farmacêutica”, publicado este ano. “Estes avanços têm provocado reações diversificadas, desde o apoio incondicional, beirando a ideologização, até o rechaço, também ideologizado, da entrada de plantas medicinais na atenção básica em saúde”, pondera.
No ano passado, o dominical Fantástico lançou uma série intitulada “É bom pra quê?”, em que o médico Drauzio Varella “investigou” a utilização de ervas e fitoterápicos. A abordagem de Varella provocou controvérsias e a reação imediata de milhares de farmacêuticos e entidades ligadas à saúde em todo o Brasil, ao colocar em xeque a credibilidade da Política Nacional de Fitoterapia, adotada pelo Ministério da Saúde.
Zienhe diz que este episódio só reforçou a vontade de lançar luz aos saberes tradicionais. “Este debate atual, negativado de forma generalizada em torno da prática milenar do uso de ervas, é muito recente. Isso só fortaleceu o desejo de resgatar e validar essa sabedoria. O diálogo entre a ciência e o conhecimento tradicional é importante e necessário, mas um não deve anular o outro. O filme acaba discutindo transversalmente uma abordagem mais contemporânea, que defende a medicina integrativa, a partir da união desses dois campos”, diz Zienhe. E que Drauzio Varella não nos ouça.

www.ervasesaberes.ecleteca.com.br

Fonte: www.diarioonline.com.br 13/06/2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

Mercado Bolonha perde a beleza das pedras de lioz

REFORMA
Obra está retirando as pedras portuguesas, Prefeitura diz que vão para outro local.

Os trabalhadores do entorno do Mercado Bolonha, no Ver-o-Peso, reclamam da retirada das pedras de lioz, conhecidas como portuguesas, que formavam a calçada do local. As pedras são consideradas patrimônio cultural e, assim como prédios e outras construções, protegidas pela lei municipal de número 7.709/1994. No entanto, como parte da reforma do mercado, elas foram substituídas por pedras do tipo cariri, consideradas de qualidade inferior, e o material retirado foi acumulado nas calçadas, o que dificulta o trânsito de pedestres.
O comerciante Raimundo Veloso, 80 anos, é proprietário de uma casa comercial instalada no Mercado. No entanto, em função da reforma no local, que já dura quatro anos, seu estabelecimento passou a ser localizado na via lateral. Há 40 anos trabalhando na área, o comerciante explica que as pedras portuguesas começaram a ser retiradas aproximadamente há duas semanas. O motivo seria o fato da calçada se tornar escorregadia durante as chuvas, causando inúmeros acidentes com pedestres. "O piso de fato ficava liso, mas não concordo com a retirada. As pedras portuguesas já existiam muito antes de eu vir trabalhar aqui e fazem parte do nosso patrimônio cultural, da nossa história", defende.
Raimundo diz que as rochas foram substituídas por outras do tipo cariri, com qualidade inferior. "Trocaram as portuguesas, que durariam pela vida inteira, por essas que nem terminaram de ser colocadas, e já estão saindo ou se quebrando". As pedras retiradas estariam sendo levadas por caminhões da empresa ou sendo acumuladas na calçada e nas ruas próximas ao local. "Ninguém sabe para onde estas pedras, que devem ter alto valor comercial estão indo. As outras ficam aqui acumuladas, causando acidentes com os pedestres que precisam passar por aqui. E, ninguém diz um prazo para que a obra da calçada e do Mercado realmente seja concluída", reclama.
O arquiteto Akel Fares Filho, do Programa Monumenta, do governo federal, que está sendo executado pela Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), explicou por telefone que a retirada das pedras de lioz foi feita "porque estavam muito quebradas". No entanto, ele garante que elas serão recolocadas na calçada de acesso ao Mercado, pela rua 15 de Novembro, e nas marcações das entradas pela avenida Boulevard Castilhos França e pelas vias laterais. "Se tivéssemos lioz para toda a calçada, nós colocaríamos. Mas não é possível, em função do estado em que as pedras se encontravam", destaca o arquiteto. A previsão da conclusão da obra no calçamento é de 15 dias, e as pedras que sobrarem, deverão ser encaminhadas para a Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb), que conta com um depósito para recolher os materiais.

Fonte: www.orm.com.br/oliberal  07/05/2011

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Rocinha do Museu Goeldi em álbum sobre Patrimônios do Brasil

Agência Museu Goeldi - No século XIX, um tipo especial de habitação espalhou-se pelos arredores de Belém. As rocinhas, como eram chamadas, constituíram-se em vivendas rurais características da cidade, utilizadas por seus proprietários como casa para temporadas de descanso. 

A rocinha do Museu Paraense Emílio Goeldi foi construída em 1879 para a residência de Bento José da Silva Santos, cujas iniciais ainda podem ser lidas no alto da porta central. Em 1895, foi adquirida pelo Governo do Pará para a instalação do Museu, sem uma sede definida desde que fora criado, em 1866. No prédio, o então diretor, o zoólogo Emílio Goeldi (1859-1917), instalou exposições, gabinetes e a biblioteca.

Esse é um dos poucos exemplares que sobreviveram entre as mais de 300 rocinhas que existiam na cidade e o único onde é possível a visitação pública. A preservação de suas características arquitetônicas foi garantida por meio de intervenções realizadas na década de 1970 e em 2003-2005, quando o prédio foi restaurado e adaptado. 

Desde então, abriga exposições, o Centro de Visitantes e o Serviço de Educação do Museu Goeldi. O nome do edifício homenageia o criador do Museu, o mineiro Domingos Soares Ferreira Penna (1818-1888). Em razão de seu valor artístico e histórico, sua fachada foi adotada como logomarca e símbolo maior do Museu Goeldi.

Devido ao seu valor histórico e representativo de seu estilo arquitetônico, a Rocinha participa do projeto da Azougue Editorial, um livro sobre ‘Patrimônios do Brasil – projetos de restauração e memória’, com fotografias e textos sobre 20 exemplares do patrimônio histórico e cultural brasileiros em edição trilíngue com textos em português, espanhol e inglês. 
Para evidenciar a diversidade cultural brasileira, o livro registra patrimônios das cinco regiões do país. Da região norte, apenas o Pavilhão Domingos Soares Ferreira Penna, a Rocinha do Museu Emílio Goeldi e o Teatro Amazonas (AM) foram incluídos. O projeto é patrocinado pelo Ministério da Cultura e pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).

Azougue Editorial - Criada em 2001, como extensão da revista Azougue, é considerada uma das mais importantes revistas literárias em atividade no Brasil. Tem como proposta ser uma editora de intervenção no cenário cultural brasileiro. Para isso, atua em três frentes: na pesquisa e disponibilização de documentos fundamentais para a compreensão da história recente; na abertura de espaço para as novas produções; e na reflexão crítica sobre cultura e sociedade.
Fonte:Museu em Pauta - www.museu-goeldi.br  03/06/2011