quinta-feira, 28 de abril de 2011

ASAPAM promove curso de Elaboração de Projetos Culturais



A Associação dos Agentes do Patrimônio da Amazônia, em parceria com a Faculdade Integrada Brasil Amazônia (FIBRA), promove nos meses de maio e junho o curso de Elaboração de Projetos Culturais, que tem por objetivo instrumentalizar profissionais e demais interessados para conceber, elaborar e analisar projetos da área cultural.
O curso será ministrado pelo técnico do Departamento de Patrimônio Histórico (DEPHAC/Secult) Cléber Gomes, que abordará as seguintes temáticas: aspectos conceituais relacionados ao processo de elaboração de projetos: planejamento e projeto (o projeto como solução); aspectos metodológicos da construção e análise de indicadores de produto, processo e impacto; a cultura como campo de implementação de projetos; noções de Economia da Cultura e Marketing Cultural; Políticas Culturais: editais e leis de incentivo fiscal (o caso da Lei Semear e Lei Rouanet); o processo de concepção do projeto e diagnóstico da situação: relevância,  fatores sociais, ambiente, viabilidade e  a modelagem básica do projeto.

Serviço:

Curso de Elaboração de Projetos Culturais
Datas: 14, 21 e 28 de maio, 4 e 11 de junho de 2011, nos horários de 8h às 12h e 14h às 16h.
Local: Faculdade Integrada Brasil Amazônia (Avenida Gentil Bittencourt,1141, próximo à  Travessa Generalíssimo Deodoro)
Investimento: R$ 30,00
Mais Informações: 8151.0268 (Verena), 8880.1516 (Bernardo), ou pelo e-mail: patrimoniocomunicacao@gmail.com

Por Anna Raquel Castro - ASAPAM

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Arquivo Público do Estado do Pará: APEP, HOJE SIM, AMANHÃ QUEM SABE...?

E-mail recebido por Rosana Pinheiro, sócio-fundadora da Associaçãodos Amigos do Arquivo Público do Estado do Pará, funcionária da Secult/APEP.

CAROS AMIGOS,

Não é de hoje que vemos cada vez mais o Arquivo Público entre perigo eminente de sofrer um sinistro.
É sabido que a área onde está guardado o seu acervo, que para NÓS e toda a comunidade acadêmica ou não,está sobre um imenso "barril" de pólvora.
Não nos assustemos portanto se um dia o PARÁ amanhecer sem sua HISTÓRIA, pois um incêndio naquele prédio do APEP, em poucos minutos, a perderemos para SEMPRE.
De quem será a responsabilidade? Dos gestores governamentais? dos funcionários? DOS amigos do  APEP? Eu diria, DE TODOS!!
Precisamos de ações, precisamos de MOBILIZAÇÕES para informar o quanto é de suma importância para o PARÁ, o TESOURO que é guardado e preservado naquela instituição de governo.
Amanhã poderá passar a ser "UM PASSADO" com lamentável perda irrecuperável.

Atenciosamente,

ROSANA PINHEIRO
Sócia FUNDADORA da ARQPEP e 
Funcionária da SECULT/APEP

Landi, gênio criativo em Belém


Estudiosa do arquiteto bolonhês não tem dúvida sobre a qualidade da obra realizada em solo paraense

O Fórum Landi, encontro de intelectuais que tem a nobre iniciativa de iniciar uma campanha para tornar patrimônio cultural da humanidade o conjunto arquitetônico que o arquiteto italiano Antonio José Landi legou a Belém, teve sua Segunda Reunião Internacional realizada sexta-feira (22) na capital paraense.
Landi foi o responsável por inúmeras fachadas, prédios, portos e praças espalhadas pela cidade que dão charme à capital paraense. Entre os entusiastas da campanha está a professora doutora Isabel Mendonça, portuguesa que lançou mão de anos de sua vida para dedicar-se aos estudos sobre a vida e a obra do arquiteto.
A professora falou sobre a figura excêntrica de Landi e como o bolonhês chegou às longínquas terras amazônicas, sendo um dos principais responsáveis pelos traços da escola clássica italiana na região. Na reunião, Isabel dissertou de forma generalizada sobre a importância do trabalho de Landi. "Não há dúvidas sobre a autoridade de Landi. Se Belém possui um acervo impressionante de obras, que vão da arquitetura ao urbanismo, que estão em consonância com o que vinha sendo produzido na Europa, isso se deve a ele", pontua Isabel, que tem formação em História da Arte pela Universidade Clássica de Letras, de Lisboa. Ela é professora da Fundação Ricardo Espírito Santo, de Portugal, e cidadã honorária de Belém. Assina a obra "Antônio José Landi (1713 1991) - um artista entre dois continentes", resultado de sua tese de doutorado.
Em sua estadia em Belém, cidade por ela já visitada várias vezes, Isabel também participou do VIII Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte (CLBHA), que aconteceu na Universidade Federal do Pará entre os dias 4 e 7 de abril. Na ocasião, ela apresentou um estudo sobre uma coleção em prataria que faz parte do frontal do altar da Igreja do Carmo (cuja fachada é assinada por Landi). "Trata-se de um conjunto muito belo e um dos poucos que ainda está completo dos que vieram de Portugal para o Brasil".

Pesquisadora descobriu belém em londres

A professora Isabel Mendonça fala sobre suas pesquisas e como teve contato com a obra de Antonio José Landi: "Tudo começou após uma visita que fiz ao Museu Britânico, em Londres. Lá, por meio de um álbum, conheci obras de Landi que estavam localizadas em Portugal e me encantei pelos traços atribuídos por ele às construções. A partir de então, comecei a pesquisá-lo. Conheci sua trajetória: do nascimento em Bolonha, na Itália, passando por Portugal, até sua morte em Belém e tudo que ele fez pelos lugares que esteve. Visitei suas obras, fiz sua biografia e compreendi a sua importância para a arquitetura da época, principalmente por ter levado a outro continente o que estava sendo pensado e executado na Europa".
Depois de ter feito sucesso na Europa, a professora Isabel Mendonça explica como foi que o arquiteto bolonhês veio parar na Amazônia: "Landi se formou em Bolonha, lugar de vanguarda no estudo da arquitetura. Após passar por alguns lugares da Europa, ele foi parar em Portugal, onde também tem uma significativa obra. Foi lá que apareceu a possibilidade de vir para o Brasil. Como tinha espírito empreendedor e aventureiro, em 1753, aportou na Amazônia, região que estava em ascensão na época".
Isabel Mendonça explica o que a fascinou no estilo de Landi: "Sem dúvida, a qualidade artística de sua obra. Como tenho formação em História da Arte o primor dos traços e detalhes nas construções assinadas por Landi me fascinaram. Quando me deparei com o álbum no Museu Britânico foi inevitável fazer o confronto entre o que ele havia feito na Itália, em Portugal e no Brasil. 

Misterioso e empreendedor, teve engenho e fábrica de cerâmica

Durante os estudos que fez da obra de Landi, a professora e pesquisadora Isabel Mendonça teve muitas percepções do arquiteto bolonhês, que ela destaca: "Há muitos momentos na minha pesquisa que permitem perceber como ele viveu, traçar o seu perfil psicológico. Existem escritos que mostram a relação dele com a região e como ele era mesmo. Inclusive, há também relatos de outros portugueses que conviveram com ele. O que se pode presumir é que Landi era visto como ‘um louco’, uma pessoa excêntrica e que primava por aventuras. Essas características marcam sua carreira. Em contrapartida, o arquiteto era um grande empreendedor e levava isso muito a sério. Teve engenhos e fazendas. Chegou a produzir açúcar e exportar para Lisboa. Também teve fábrica de produtos em cerâmica e utilitários. Era um homem misterioso, chegou a fazer parte de irmandades. Escolhas que ele faz como arquiteto, as próprias plantas e formas, mostram que, acima de tudo, ele era um homem do seu tempo".
A professora não tem dúvida de que a obra de Landi merece ser contemplada com a distinção de patrimônio cultural da humanidade: "Trata-se da obra de um bolonhês no Brasil, numa região próxima à linha do Equador. Isso já é motivo suficiente. Landi era muito mais que um arquiteto, era um artista de formação erudita e que trouxe inúmeras novidades de sua área para o norte do Brasil, principalmente o Pará. E não é um um conjunto que só podemos apreciar por meio de livros e arquivos. A quantidade de obras dele que se resguardaram no tempo e que chegaram aos nossos dias faz com que o acervo seja palpável. É um recorte histórico diante dos nossos olhos".
Terras paraenses guardam porção europeia do artista italiano

A professora e pesquisa isabel Mendonça não tem dúvida de que, em terras paraenses, reside uma porção europeia na obra de Landi: "No caso do Pará, onde ele assina diversas obras, podemos perceber que há influência local, mas a maior parte do conjunto reflete sua posição italiana. São construções que ele nunca faria na Itália, por diferenças climáticas, de relevo e de cultura, mas os traços fundamentais são da escola de Bolonha. Um exemplo é uma vila em Óbidos, que tem características italianas, entre tantas outras construções. O grande apreço que ele tem pelo estilo italiano, que está intrinsecamente ligado à sua formação, é perceptível em sua obra".
E ela pontua obras características dos traços de Landi na capital paraense: "Temos diversas obras que mantêm o acervo de Landi intacto. O mais importante é o Palácio Lauro Sodré, pois é o mais característico de seu estilo, sendo a obra mais marcante na imagem da cidade, inclusive. Temos também a Igreja de Santana e a Capela de São João Batista. Algumas obras não são assinadas totalmente por ele, pois eram obras inacabadas, que foram finalizadas por Landi. Entres estas, a Igreja do Carmo e a Igreja da Sé. Há também obras no interior do Estado, como a vila de Óbidos e Vila de Chaves, na Ilha do Marajó. Paróquias em Cametá e Igarapé-Mirim também fazem parte do conjunto de Landi".

Fonte: www.orm.com.br/amazonia/ 25/04/2011

sábado, 23 de abril de 2011

Olympia comemora 99 anos

Programação especial receberá, amanhã, amantes do cinema mais antigo do Brasil em funcionamento
YÁSKARA CAVALCANTE
Da Redação

Amanhã a cultura paraense estará em festa. O Cinema Olympia, mais antigo em atividade no Brasil, completa 99 anos. Histórias de quem viveu o auge do sucesso do cinema, filmes de maior sucesso exibidos na sala e as homenagens que o quase secular templo cultural têm recebido são só algumas das maneiras de celebrar mais um ano de sua existência, marcada na memória dos paraenses e de cinéfilos de Norte a Sul do País.
Mesmo fechado no dia 16 de fevereiro de 2006 por um dos herdeiros da família Severiano Ribeiro, Luis Severiano Ribeiro Neto, o Cine Olympia jamais encerrou suas atividades, embora tenha tido a programação interrompida por curto período de tempo. Claro que o brilhantismo e o grande movimento desde sua fundação, em 24 de abril de 1912 pelos empresários Carlos Teixeira e Antonio Martins, donos do Grande Hotel (onde hoje está o Hilton Hotel) e do Palace Theatre (na mesma quadra), foi perdendo espaço.
Porém, até hoje, ainda há quem não deixe de frequentar o cinema, ou simplesmente trazê-lo na lembrança, como o casal Luzia Álvares e Pedro Veriano, que começou a namorar exatamente no dia18 de março de 1957 dentro do Olympia, onde foram assistir a estreia de "Sinfonia Carioca", comédia premiada nos festivais da época e que conta a história de uma interna de um colégio, com irresistível vocação para o teatro e passa a viver na casa do avô, cuja irmã, uma solteirona, reprova o procedimento da sobrinha-neta, decidindo interná-la num hospício.
Luzia e Pedro, que quando se conheceram tinham, respectivamente, 17 e 21 anos, contam que marcaram de se encontrar no cinema. Contudo, como estava muito lotado, eles acabaram indo namorar no anfiteatro da praça da República. "Não deu para ficar lá e nós acabamos indo para o anfiteatro", lembra Luzia, doutora em ciência política e jornalista. Ela casou com Pedro Veriano, médico, em 1961, e ao longo desses 50 anos de união não deixou de frequentar o cinema, assim como o marido.
Pais de quatro filhas e avós de dez netos, Pedro e Luzia têm uma relação que vai além do amor à cultura. O casal tem na memória uma série de filmes que considera inesquecível e prepara um projeto para resgatar o histórico cultural do cinema. "As lembranças que temos são muitas. Os filmes de arte são os que mais nos vêm à cabeça. Posso dizer até que não consigo destacar os melhores filmes que já assisti no Olympia", observa Luzia.
A jornalista destaca as produções de Federico Fellini, um dos mais importantes cineastas italianos, eternizado pela poesia de seus filmes, que, mesmo quando faziam sérias críticas à sociedade, não deixavam a magia do cinema desaparecer.
Os filmes do mexicano Luis Buñuel, conhecido como revolucionário do cinema espanhol, inclusive com trabalhos feitos em parceria com Salvador Dalí, também são inesquecíveis para Luzia, que ao lado do marido prepara um livro sobre o Olympia. Na publicação, o casal espera apresentar um acervo de fotos, cujo levantamento já vem sendo feito.
Ao Cine Olympia, Luzia Álvares gostaria de dar um presente de aniversário: "Queria que o Olympia fosse tombado como um documento da política e da cultura desse Estado e que, principalmente, ele recebesse um projeto de recuperação de suas formas originais", diz.

Cine é patrimônio histórico e cultural
Para o programador do Cine Olympia desde 2006 Marco Antônio Moreira, o Olympia não é só um cinema. Mas um patrimônio histórico e cultural do Pará.
"Daqui a um ano, o Olympia faz cem anos. Quantas gerações não passaram por ele? Não se trata só de uma sala de cinema. Por isso, acho que ele deveria ser mais valorizado, pois é muito importante que ele seja mantido. É cinema mais antigo do Brasil em funcionamento e quem sabe um dos mais antigos do mundo", destaca Marco Antônio Moreira.
O programador, também um dos mais ativos críticos de cinema do Estado, observa que já existe um projeto para comemorar o centenário do Olympia. E toda a sociedade paraense pode ajudar a reforçar o projeto, intitulado "Você e o Cine Olympia", que visa formar um vasto acervo fotográfico de momentos vividos pelo público no cinema.
Para participar, é preciso enviar uma foto de qualquer época, de qualquer ano, do cinema. Pode ser uma imagem interna ou externa, da fachada. A imagem pode exibir pessoas, amigos, familiares ou qualquer outro personagem tendo o Olympia como palco.
Depois, basta enviar a foto para o endereço eletrônico cinemaolympia@belem.pa.gov. Br. A intenção é montar um grande painel para valorizar os espectadores e exibi-lo no hall do cinema.

Concerto, coral e filmes na festa de amanhã
Para festejar os 99 anos de existência do Cinema Olympia, a Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), responsável pela administração do cinema, promove amanhã, a partir das 16h, rica programação. Entre as atrações, concerto do violonista Salomão Habib, que apresentará 14 trilhas de filmes, e ainda apresentação do Gran Coral Metropolitano e do tecladista Alan Navegantes. O longa "Inverno da Alma", do diretor Debra Granik, será exibido às 18h30. O público poderá participar dos festejos gratuitamente.
Salomão Habib conta que preparou o concerto com muito carinho. "Trilhas de Olympia", nome do espetáculo, promete, em uma hora de apresentação, emocionar o público. O repertório foi montado a partir de filmes que marcaram a história do cinema mundial, como "Cinema Paradiso", produção italiana de Giuseppe Tornatore e "O Poderoso Chefão", que consagram para sempre os atores Marlon Brando e Al Pacino. Para completar a homenagem musical, Salomão tocará as trilhas tendo ao fundo imagens dos filmes projetadas para o público, o que deverá emocionar ainda mais os presentes. "Sempre gostei de cinema, de trilhas. Por isso, apresento essas obras transcritas para violão em um solo que promete muitas emoções. E agora, tendo a oportunidade de saudar um cinema histórico dentro da minha cidade, estou muito feliz", afirma o violonista.
O concerto será viabilizado graças à iniciativa da Associação de Críticos de Cinema, que apoia Salomão na produção do CD "Olympia", em processo de preparação para ser lançado ano que vem, quando o cine completa um século de existência.

Fonte: www.orm.com.br/amazonia/ 23/04/2011

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Restaurar é para artistas

Obras sofrem com a ação do tempo e com a exposição pública e dependem de refinado manejo de conservação

Por contemplação religiosa ou curiosidade turística e/ou cultural, as obras de arte sacras estão em constante exposição e sujeitas à ação do tempo, do toque, de insetos variados e, também, das indesejáveis infiltrações, tão comuns numa cidade como Belém, que tem a chuva como elemento constante. Assim, imagens de santos, objetos religiosos, de arte e até mesmo a arquitetura de igrejas ganham reforço em um trabalho demorado, detalhado e nada fácil, como o que é realizado pelos restauradores, que ainda têm a responsabilidade de ajudar na preservação. Mesmo em número reduzido, os restauradores são considerados anjos da guarda de incontáveis obras de valor inestimável, o que os mantêm envoltos em um certo toque de mistério, tradição e beleza.
Belém tem muitas obras em processo de restauração. E o ato de restaurar, segundo o restaurador paulista Philippe Garai, "tem triplo significado: restaurar a obra em si; o autor da
obra; e, indiretamente, a época à qual pertence a obra". Por isso, o trabalho desse profissional merece destaque e respeito. Sobretudo pela capacidade de recuperar o que já parecia perdido como obra de arte.
Porcelanas, molduras, imagens de santos, esculturas, objetos antigos, tudo o que se pensar é passível de restauro. As técnicas de reconstrução são muitas e envolvem desde o conhecimento histórico até o estudo do material utilizado para o processo de restauro, que tem como foco maior igualar o trabalho executado ao original: "A restauração que faço nas porcelanas, por exemplo, é aplicada, somente nas áreas danificadas. Nunca nas intactas. O original é sagrado e nunca deve ser profanado. Para que uma porcelana reconquiste o frescor da época em que foi gerada é necessário o profundo conhecimento de sua composição em sua época", observa Garai.
No caso de telas rasgadas ou furadas, Phillippe utiliza cera de abelha para fixar a área que deverá ser reentelada. Já para a restauração de imagens sacras, marfins e mármores, o restaurador - que acaba tendo que atuar como escultor - utiliza ferramentas fabricadas por ele mesmo para reconstruir dedos, orelhas, vestimentas, entre outras partes danificadas. "Concluída essa etapa verifico a coloração, a fim de adequar o tom de minha escultura com o tom do objeto original", detalha o artista.

Pinto Neto reconstruiu mais de mil obras

Artista plástico e restaurador em atuação no Pará há pelo menos 20 anos, Pinto Neto já reconstruiu mais de mil obras. Atualmente, trabalha no restauro de uma imagem de Dom Bosco, pertencente à comunidade que leva o nome do santo, localizada em Ananindeua. A obra, que mede 1,60m de altura, vai exigir cerca de 90 dias para ficar pronta, pois carece de restauro em quase todas as partes.
Pinto Neto também cuida de dois crucifixos pertencentes à paróquia do Sagrado Coração de Jesus. O trabalho já dura alguns dias e ainda vai levar uma ou duas semanas até ser concluído. Mas, o artista garante: "o resultado é impressionante".
Pinto Neto herdou a profissão do pai. E busca sempre um trabalho voltado à reconstrução de boa qualidade, mesmo que não lhe renda dinheiro. A prova disso é o trabalho como voluntário que faz em paróquias e comunidades do Estado, como a Vila do Ó, no município de Santa Izabel, onde ele foi responsável pelo restauro da imagem da santa padroeira, Nossa Senhora das Graças. "Fiz o restauro com muito carinho. E fiz também uma berlinda", conta o restaurador, que não cobrou nada pelo trabalho.
Outro trabalho de Pinto Neto foi o restauro dos portões internos da Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré. "Foi uma obra que me deu muito trabalho, mas, principalmente, orgulho. Foram quase cinco anos de dedicação, mas que tenho certeza que o resultado ficou maravilhoso, o que me deixa muito feliz", diz, emocionado, o restaurador.

Segredo do bom trabalho está na técnica e na sensibilidade

Restauração e preservação cultural caminham juntas. A importância fundamental está direcionada ao desenvolvimento e enriquecimento cultural de um povo, que, com a reconstituição de obras históricas, passa a ter registros de sua memória, como crenças, costumes, ideias e conhecimento tecnológico.
O segredo do bom trabalho de restauração, de acordo com os próprios profissionais da área, está na técnica adotada para reconstruir o alvo, cujo processo envolve três conceitos: preservação, conservação e restauração. Afinal, não dá para refazer um objeto sem evitar que ele se deteriore e se relacione com o meio em que ficará exposto; que seja conserado sem que a peça seja mantida em estado original; e que seja restaurada sem atentar para o resgate dos valores históricos e estéticos.
Para manter a integridade de um patrimônio, seja pintura em tela, em parede ou em teto; desenhos; esculturas em superfícies de pedra, madeira ou parede; monumentos e estátuas; obras arquitetônicas antigas, como igrejas, capelas, casas, edifícios, templos; objetos litúrgicos e imagens; ou em publicações e mapas; o restaurador, que precisa entender de história da arte, química, biologia e cultura geral, além de conhecer as técnicas e métodos dos principais artistas.
A sensibilidade também é fundamental no trabalho de um restaurador, que deve gostar de arte e ter a capacidade de observação e detalhar cada centímetro a ser reconstruído. "Tem que amar muito o trabalho, pois não pode haver imperfeição", pontua o restaurador paraense Pinto Neto.
Ele aprofundou pesquisas com andiroba e copaíba contra fungos e cupins, os grandes vilões das obras de arte. A partir das duas substâncias medicinais, Pinto Neto desenvolveu uma técnica de aquecimento da mistura, que protege imagens, molduras e até ferro. "Percebi que o óleo afinava e comecei a injetá-lo em casas de cupim. Fiquei impressionado com a reação deles", revela o artista.

Fonte: www.orm.com.br/amazonia/ 22/04/2011

Casarão centenário desaba no Comércio

Na madrugada de ontem, alguns vendedores ambulantes que se revezam para vigiar suas respectivas barracas que ficam nas imediações da avenida João Alfredo com a travessa Campo Sales, no bairro do Comércio, em Belém, viveram instantes de tensão ao presenciarem o desabamento de parte de um centenário casarão localizado na esquina do referido perímetro.
O fato ocorreu por volta de 2h30. Primeiramente, os ambulantes ouviram alguns estalos e se afastaram do casarão. “A gente estava ali na barraca, eu o Jonathan. Quando começaram os estalos, a gente passou a olhar pra lá (casarão)”, relembrou o ambulante José Maria Barroso, de 33 anos. “Aí, uma das vigas entornou e gente gritou: vai cair!”, concluiu.
Nesse momento, todos os ambulantes correram pela avenida João Alfredo em direção à travessa Frutuoso Guimarães. De acordo com eles, um lado da fachada desabou inicialmente.
Em seguida, o restante de boa parte da estrutura cedeu rapidamente. Enquanto isso, outros ambulantes comunicaram o desabamento a policiais militares da viatura 9212, da 6ª Zpol, que transitavam pela rua Manoel Barata com a travessa Campo Sales.
Logo depois, o sargento Gouveia, comandante da referida guarnição, acionou o Ciop (Centro Integrado de Operações), que, por sua vez, mobilizou o Corpo de Bombeiros. Uma unidade do 1º Grupamento de Busca e Salvamento compareceu imediatamente ao local e isolou a área. “Os próprios ambulantes garantem que não havia vítimas”, informou o sargento.
Os destroços do casarão, que funciona como depósito de uma loja localizada na esquina à frente (Riachuelo), atingiram a fiação elétrica instalada no trecho. Com isso, a concessionária de energia também foi acionada. O fornecimento de energia elétrica foi rapidamente interrompido no quarteirão. Mais tarde, outros quarteirões tiveram o fornecimento comprometido.
No final da madrugada, o tenente Leonardo Sarges, do Corpo de Bombeiros, esclareceu que peritos do Centro de Atividades Técnicas (CAT) da corporação realizariam uma perícia no local. Após o procedimento, seria elaborado um laudo técnico, previsto para ser concluído num período entre 15 e 30 dias. A princípio, ele não soube informar se o casarão seria um patrimônio tombado e pertenceria à Prefeitura Municipal de Belém.
A autoridade comentou que vários fatores podem ter colaborado para o desabamento.
“As intempéries do tempo, como chuva e sol, podem ter contribuído para isso. O fato de ser uma estrutura centenária também, assim como o intenso fluxo de veículos com cargas pesadas pelas proximidades, o que pode ter comprometido a estrutura.”

SEM ENERGIA
Os destroços atingiram a fiação elétrica instalado no trecho e a concessionária de energia também foi acionada. O fornecimento de energia elétrica foi rapidamente interrompido.

Parte que sobrou de casarão no comércio pode cair

Ontem (21) pela manhã, uma equipe do Corpo de Bombeiros esteve no local para oferecer suporte aos técnicos da Rede Celpa que trabalhavam no reparo da parte elétrica que foi danificada por conta da queda do casarão e deixou um quarteirão sem o fornecimento de energia elétrica.
No momento do acidente, os escombros carregaram os cabos de distribuição de energia e um poste de iluminação ficou inclinado por cerca de 45 graus, de acordo com o técnico de manutenção da Rede Celpa, Orlando Feitosa. “Inicialmente, vamos trabalhar para deixar o poste em seu ângulo original, somente após a liberação da Defesa Civil poderemos começar o reparo na área de risco, pois uma parte do prédio ainda há risco de tombar”, afirmou. Ainda segundo ele, a estimativa é que a rede fique normalizada por volta das 17h.
No local, vários comerciantes proprietários de lojas do entorno do casarão foram verificar a dimensão do acidente. “Trabalho aqui há 40 anos, nunca esse casarão apresentou estalos ou qualquer tipo de sinal que poderia cair. Por sorte, a estrutura comprometida não abalou o imóvel que funciona minha loja”, comentou o comerciante Marlindo Costa, proprietário de uma loja localizada ao lado do prédio que caiu.
A arquiteta da Defesa Civil, Rosário Sá Ribeiro, esteve no local para tentar levantar as circunstâncias da queda do prédio, com base em analises dos escombros.
“Em um ponto de apoio do telhado, chamado de ‘tesoura’, apresentou maior concentração de umidade. Isso pode ter fragilizado a estrutura do imóvel e leva-lo a cair, no entanto, somente com a perícia técnica poderá informar as causas reais do acidente”, informou.

Fonte: www.diarioonline.com.br 22/04/2011

terça-feira, 19 de abril de 2011

Aparelhagens recebem veto ao título de patrimônio

Sempre polêmico, o tecnomelody mais uma vez anda causando barulho. E sim, é por causa das suas potentes aparelhagens. Enquanto o ritmo que mistura batidas eletrônicas e brega se torna cada vez mais popular e começa a fazer carreira para além das fronteiras do Estado e até mesmo do Brasil, por aqui, fervilha a discussão do valor desse estilo musical e do seu maquinário tecnológico como marcas da identidade cultural paraense.
Isso porque, no último dia 15 foi vetado pelo governo estadual o projeto de lei que pretendia tornar o tecnomelody e as aparelhagens patrimônios cultural e artístico do Pará. A decisão veio depois do projeto ter sido aprovado por unanimidade na Assembléia Legislativa do Estado do Pará (Alepa). Com o banho de água fria, DJs e bregueiros prometem lutar para reverter o veto.
Para esclarecer: a ideia de promover o ritmo ao título de patrimônio cultural - iniciativa do deputado estadual Carlos Bordalo (PT) -, seguia promissora, e foi aprovada sem qualquer oposição no último mês de março na Alepa. Mas eis que a inclusão das aparelhagens também como patrimônio causou a discórdia entre deputados e a assessoria jurídica do governador Simão Janete. Segundo nota publicada no Diário Oficial, mesmo admitindo a relevância à proteção ao tecnobrega como ritmo musical exclusivo do Pará, o governador alegou que “o mesmo não se pode afirmar quanto às aparelhagens de som e seus símbolos, os quais não passam de meio material da divulgação do ritmo em questão, que não detém significação cultural ou artística, mas meramente técnica (sem qualquer inovação tecnológica) e comercial (os símbolos, marcas de propaganda)”.

REPERCUSSÃO
“Achar que as aparelhagens são meramente uma máquina de som é até ignorância. As aparelhagens já existem há mais de 60 anos nas festas paraenses. São um símbolo cultural, integram o movimento do tecnomelody que, aliás, sempre foi marginalizado, porque nunca recebeu nenhuma benesse do governo, nunca foi acolhido. Ele existe por muita competência de organização independente, e por isso está fortalecido no mercado”, diz Manoel Machado Júnior, presidente da Associação dos Proprietários de Aparelhagens Sonoras do Estado do Pará, Apasepa, que reúne as mais populares: Rubi, Tupinambá, Príncipe Negro e Superpop.

Ainda segundo o texto do Diário Oficial, Jatene argumenta que, ao pretender tornar as aparelhagens como patrimônio cultural, o projeto de lei transgride a Constituição.
“Assim, como o cerne da lei aprovada é um só artigo (o 1º), onde se constitui a proteção artística cultural para o ritmo (até esse ponto constitucional), se a redação dele fosse até aí, não estaria contaminado pela inconstitucionalidade. Mas, ao estendê-la para o meio sonoro e marcas de divulgação do ritmo, foge do conceito destinado à proteção cultural e artística imaterial. Então, acaba por torná-la inconstitucional em seu todo”, conclui o governador em seu pronunciamento.
Edilson Santos, dono de uma das maiores aparelhagens do Pará, o Príncipe Negro, critica o ponto de vista do governo. “Você consegue ver o tecnomelody sem aparelhagem? Não existe isso. A aparelhagem é como se fosse o trio elétrico da Bahia, só que fixo. Se lá o trio é patrimônio do estado, porque aqui as aparelhagens não podem ser?”, argumenta DJ Edilson, que há 22 anos toca nas picapes.

O momento é de contra-ataque. Pelo menos é o que planejam os artistas ligados ao tecnomelody. “Estamos revoltados. A primeira iniciativa é procurar apoio dos deputados e buscar uma solução. A situação é lamentável. Eu espero que o veto não tenha sido por questões de ordem política, já que o deputado que propôs a lei é de oposição ao governo”, diz Manoel Machado.
Bordalo explica que os argumentos do governador estão sendo analisados, e que o veto não representa uma decisão definitiva para o futuro do projeto de lei.
“Já que se estabeleceu um conflito entre a Comissão de Constituição e Justiça da Alepa e a Assessoria Jurídica do Governador, o documento volta para a Câmara para que sejam apreciadas as argumentações de veto. E eu acredito completamente que não teremos que mudar nada no projeto, porque não há nada nele de inconstitucional. Vou defender a derrubada do veto”.

Brasil está de olho no ritmo
Enquanto a polêmica toma corpo na Câmara, fora dela também não faltam opiniões. O músico Felipe Cordeiro, que ganha projeção nacional com seu novo disco, que transita por vários elementos do brega, considera o projeto um tanto oportunista. “Me parece um pouco inadequado. Há outras manifestações populares à frente nessa causa, como o carimbó, principalmente. Há uma certa dose de oportunismo pelo momento do tecnobrega. O brega, sim, é uma das marcas mais fortes daqui. Mas o tecnobrega é recente, é uma manifestação urbana, que de certa forma tem a proteção de grupos de mercado”, argumenta o artista, filho de Manoel Cordeiro, nome de vanguarda da lambada paraense.
Para Bordalo, é hora de brigar pela aprovação do projeto. “Recentemente, a banda Deja Vu tentou patentear o tecnomelody como ritmo baiano. Precisamos defender o que é nosso”, diz.
Mais do que o apelo cultural, há quem destaque a imponência econômica do estilo musical. “No Sul e Sudeste, há muitas pesquisas que investigam as raízes do tecnomelody, o que ele representa como cadeia produtiva. Ou seja, o Brasil todo está interessado nisso. Inclusive ele foi apontado como uma das maiores oportunidades de negócio aberto de toda a América do Sul”, diz o presidente da Apasepa, Manoel Machado, referindo-se ao livro “Tecnobrega: o Pará reinventando o negócio da música”, publicado em 2008 pela Fundação Getúlio Vargas. 

Fonte: www.diarioonline.com.br 

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Governo veta projeto de tecnobrega como patrimônio

O governador Simão Jatene decidiu vetar integralmente o Projeto de Lei nº 130/08, que declara como patrimônio cultural e artístico do Estado do Pará o ritmo tecnobrega, as aparelhagens de som e seus símbolos. O projeto, de 16 de março de 2011, foi apresentado pelo deputado Carlos Bordalo (PT) e aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado. A decisão de Jatene foi publicada hoje (15), no Diário Oficial do Estado.
Mesmo admitindo a relevância à proteção ao tecnobrega como ritmo musical exlusivo do Pará, onde foi criado e repercute cultural e artisticamente, o governador alegou que “o mesmo não se pode afirmar quanto às aparelhagens de som e seus símbolos, os quais não passam de meio material da divulgação do ritmo em questão, que não detém significação cultural ou artística, mas meramente técnica (sem qualquer inovação tecnológica) e comercial (os símbolos, marcas de propaganda)”.
Em sua mensagem de veto, o governador ainda explica que o projeto só foi barrado integralmente por tratar do tecnobrega apenas em um artigo. “Assim, como o cerne da lei aprovada é um só artigo (o 1º), onde se constitui a proteção artística cultural para o ritmo (até esse ponto constitucional), se a redação dele fosse até aí, não estaria contaminado pela inconstitucionalidade. Mas, ao estendê-la para o meio sonoro e marcas de divulgação do ritmo, foge do conceito destinado à proteção cultural e artística imaterial. Então, acaba por torná-la inconstitucional em seu todo.”

Fonte: http://www.diarioonline.com.br/ 15/04/2011

sexta-feira, 8 de abril de 2011

História é esquecida






Cercados de mato, lixo e rachaduras, Monumentos de Belém estão abandonados

Monumentos históricos de Belém parecem tão abandonados quanto a própria cidade. As obras de arte, em memória de fatos da história do município e do Estado, estão cercadas de lixo, mato e limo. Além da ação do tempo e do ambiente, moradores de rua e pichadores também contribuem para a degradação do patrimônio. Alguns apresentam rachaduras que podem causar danos irreparáveis no futuro.
Um dos mais deteriorados e mais visíveis de Belém é o monumento em memória à Cabanagem (1835 a 1840), revolta popular no Pará em que o povo assumiu o poder após a independência do Brasil. A obra do arquiteto Oscar Niemeyer fica no centro do complexo viário do Entroncamento. A obra está toda pichada. Ao redor, mato alto e muito lixo. O lago ao redor transbordou e impede parte do acesso, além de estar muito poluído. Em algumas partes há marcas deixadas por fogueiras acesas por moradores de rua que ficam no entorno. Outras obras no município não estão diferentes.
Outro monumento, mas que retrata um evento mais recente, é o Pilar da Infâmia, na praça da Leitura, em São Brás, em memória do massacre de Eldorado dos Carajás, no dia 17 de abril de 1996. A obra é uma coluna de pessoas com expressões de sofrimento e desespero. E perto de completar 15 anos desde a morte de 19 sem-terras num confronto com a Polícia Militar do Pará, a obra já apresenta sinais de abandono. A coluna está com várias rachaduras, sendo uma horizontal e profunda no meio. O mato alto ao redor encobriu parte do nome do pilar em inglês. As escrituras sujas e difíceis de ler dizem: "O velho não pode eternamente destruir o novo". Por todo o monumento há ferrugem.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), responsável por monumento históricos em praça do município, informou, em nota, que já está fazendo um levantamento nos monumentos das praças que precisam ser restaurados. O busto de Getúlio Vargas, na praça Pedro Teixeira; o monumento do general Maximiniano Gurjão, na praça D. Pedro II e o Pilar da Infâmia, na praça da Leitura, já fazem parte da programação de manutenção da Semma, que inclui os serviços de limpeza, restauração, reforma, entre outros.
A Secretaria de Estado de Cultura (Secult) foi procurada mas não deu resposta sobre o monumento da Cabanagem.
Especialista aponta a falta de manutenção ao longo dos anos
A arquiteta Roseane Norat, especialista em Restauração e Preservação do Patrimônio Arquitetônico e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), ressalta que os monumentos históricos de Belém estão tão abandonados e sujos quanto a própria cidade. Isso ocorreu pelo descaso e falta de manutenção ao longo dos anos, refletindo inércia da administração municipal. Contudo, sem agregar valor cultural, incentivar visitas e proteger o patrimônio, o vandalismo piorou o aspecto dessas obras e a própria população já não se importa.
"Nos monumentos que estão em praças, só as praças recebem alguma manutenção e só paisagística. Não há uma manutenção permanente e nem cuidados especializados. Já bastaria limpar com água e sabão neutro, mas nem isso. É preciso que a população seja vigilante, tome estas obras para si e cobre do poder público", comentou a arquiteta.
Norat lembra que estes monumentos históricos são memórias da história de Belém e do Pará, tanto do passado quanto de eventos mais recentes, como o Pilar da Infâmia. Mesmo assim muitas pessoas desconhecem o que as esculturas representam, mesmo quando elas possuem informações escritas na própria obra. "A população precisa valorizar mais. As escolas deveriam fazer visitas a estas obras e explicar os fatos que representam. Estes trabalhos carregam nossas memórias e muita gente não tem ideia do que se trata", conclui.

MONUMENTOS ABANDONADOS

1. MONUMENTO À CABANAGEM (ENTRONCAMENTO): Obra do arquiteto Oscar Niemayer em Belém. A rampa representa a caminhada do povo cabano. A rachadura no topo da rampa representa a falha do governo cabano. O monumento está todo pichado, cercado de mato e lixo. Serve de abrigo para moradores de rua. As catacumbas não podem mais ser visitadas. O lago ao redor está imundo.

2. BUSTO DE PRESIDENTE VARGAS (PRAÇA PEDRO TEIXEIRA): Busto em bronze do presidente Getúlio Vargas. Possui a inscrição "Amazônia agradecida". A peça está solta no pedestal e inclinada. É possível ver um espaço entre a obra e o apoio. Está suja.

3. ESTÁTUA DO GENERAL MAXIMINIANO GURJÃO (PRAÇA DOM PEDRO II): Mesmo estando em frente da Prefeitura de Belém, a estátua de bronze está coberta de ervas daninhas, mato, fezes de aves e limo, desde a base de pedra de lioz (mármore). Homenagem ao general brasileiro que morreu no combate de Itororó, em 17 de janeiro de 1869.

4. PILAR DA INFÂMIA (PRAÇA DA LEITURA): Criada em 1996 em memória do massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996 em que 19 sem-terras morreram num confronto com a Polícia Militar do Pará. O pilar está cercado com mato alto que encobre parte da inscrição em inglês. Há várias rachaduras, sendo uma horizontal profunda bem no meio do monumento. Muita ferrugem.

Fonte: www.orm.com.br/amazonia  08/04/2011

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Cobertos por pichações, casarões definham em Belém

Como toda cidade moderna que almeja o título de metrópole, Belém cresce para cima. Torres de concreto são levantadas em ritmo industrial: é o futuro que se impõe ferozmente. Em contraste com esta retilínea arquitetura vendida a preço de ouro por algumas centenas de milhares de reais, casarões seculares definham no centro da cidade. O passado é rejeitado. Basta observar com alguma atenção as edificações recobertas de mato e pichações nas avenidas Governador José Malcher e Aristides Lobo, só para citar alguns pontos. Há vários outros, como os casarões da travessa Leão XIII e da rua Gaspar Vianna, no bairro da Campina.
Mais que um retrato eloquente do abandono de um bem material, o descuido com os prédios antigos denota algo ainda mais preocupante: o desleixo com a própria identidade cultural e histórica de Belém. “A cidade é uma acumulação de muitos tempos, inclusive dessas construções antigas. Essa somatória forma o acervo da nossa memória coletiva. Assim como guardamos fotos de família, a nossa vivência em sociedade também traz imagens importantes, e a preservação dos casarões, antes de tudo, é essencial para que a gente continue tendo auto-estima enquanto belenense”, defende Roseana Norat, mestre especialista em preservação do patrimônio público e membro do Conselho Internacional de Monumentos e Centros Históricos -Icomos.

No papel, a história é outra

Contrariando a importância da preservação dos palacetes, os prédios deixam de ser pontos turísticos ou personagens de cartões postais e se tornam verdadeiras pedras no sapato. Em ruínas, as edificações se tornam cenário para a violência, acobertando a ação de marginais. E isso não acontece apenas no bairro do Comércio, que fica deserto no final da tarde, depois que as lojas se fecham. Mesmo os bairros da Campina e Cidade Velha, primeiras áreas urbanas da capital, amargam a falta de atenção.
“Nos bairros da Cidade Velha e Campina, que são predominantemente residenciais, se vê uma grande degradação. As calçadas têm problemas, há lixo, a iluminação é ruim, a fiação elétrica não é adequada - já que ela deveria ser subterrânea, para evitar poluição visual e risco de incêndio. Tudo isso torna o lugar perigoso. Isso tira a auto-estima dos moradores, que passam a não acreditar que vale a pena investir na manutenção de prédios antigos”, avalia Norat.
Essa é a realidade enfrentada na prática, ainda que a teoria diga o contrário. No papel, os 2.800 prédios antigos localizados nestes dois bairros foram tombados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) desde o final do ano passado, o que representaria também um plano de ação diferenciado para o entorno e infra-estrutura urbana. Mas não é isso o que se vê.
“O poder público precisa fazer algo decente, que estimule as pessoas a ter vontade de morar no centro histórico, para que a Cidade Velha e a Campina possam ser locais agradáveis, e não lugares que as pessoas tenham medo de viver”, protesta Milton Kasahiro, pesquisador florestal e morador de um casarão localizado na divisa entre os dois bairros. “Há uma série de questões, como os veículos pesados que passam e muitas vezes destroem as calçadas que os próprios moradores arrumam, principalmente as esquinas. Até o caminhão de lixo no Centro Histórico deveria ser de menor porte e algumas ruas deveriam se transformar em calçadões e evitar o trânsito de veículos”.
Procurado pela reportagem, o Iphan não respondeu à entrevista enviada por e-mail à superintendência do órgão.

Sem incentivo, donos de casarões também aceleram degradação

A implementação das leis de proteção ao patrimônio histórico da cidade aponta para três órgãos. Na escala municipal, quem responde pelos prédios tombados e construções antigas é a Fumbel (Fundação Cultural Municipal de Belém). Pelo Estado, a Secult (Secretaria de Estado da Cultura do Pará); e o Iphan é o órgão nacional voltado para o desenvolvimento de políticas públicas de estímulo à preservação do patrimônio histórico, bem como a execução de multas e outras medidas a fim de coibir sua degradação.
O problema é que cada um desses órgãos possui uma área de atuação, e saber a qual deles recorrer é um tanto confuso. Para esclarecer: o Centro Histórico e entorno, até a Quintino Bocaiúva, são de responsabilidade do município. Além do Centro Histórico, a Secult, via DPHAC (Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural), cobre ainda os bairros de Nazaré, Batista Campos, Cidade Velha e Campina. O Iphan também responde pelo Centro Histórico, Cidade Velha e Campina.
A denúncia de casos de abandono de prédios antigos ou de degradação, como construções irregulares, mesmo que não se trate de um prédio tombado, deve ser realizada a Fumbel. “Notificamos vários imóveis por semana. Não é raro encontrar casos em que os proprietários destelham o prédio para acelerar o desabamento e vender o terreno”, revela Marcos Carvalho, chefe da Divisão de Preservação do Centro Histórico da Prefeitura de Belém. Além de multa, o proprietário pode ser obrigado judicialmente a reconstruir a área afetada.
Mas quais os incentivos aos donos de casarões para que eles invistam na preservação do imóvel? De acordo com o DPHAC, os mecanismos compensatórios são basicamente quatro: isenções tributárias, que variam de 10% a 100% do IPTU; transferência do direito de construir; linhas de créditos especiais no Banco Oficial do Estado para restaurações; e disponibilidade de agentes do Estado capacitados para prestar assessoria técnica em projetos e captação de recursos.

Preservação também traz segurança

“Usar os casarões como residências, e não apenas como lojas, garante que haja movimento nas ruas”, defende a especialista Roseana Norat
Apesar dos pesares, há quem escolha fazer de um prédio secular a própria casa. Foi assim com Milton Kasahiro. Foram mais de sete anos de reforma. Ainda que reconheça as agruras de se viver no Centro Histórico, Kasahiro não se arrepende de tanta dedicação para recuperar o prédio amarelo, localizado em frente à Igreja do Rosário, onde mora atualmente.
“Investi muita energia, paciência e também muito dinheiro. Levou muito mais tempo do que eu imaginava, o dinheiro acabou, e a obra ainda estava longe de ser concluída” relembra o pesquisador florestal. “Mas eu queria uma casa mais ampla, e achei o casarão. Fora isso, a vista é linda, e fica perto da igreja o que, para mim, é muito emocionante”.

BUROCRACIA

Kasahiro foi um dos poucos sortudos contemplados pelo programa Monumenta, executado pelo Ministério da Cultura e financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. O pesquisador teve a solicitação aprovada pelo edital de 2006. Já inexistente por aqui, o programa financiou a recuperação de apenas nove imóveis em sete anos de atuação no Pará. “A burocracia do processo é muito grande. Por sorte, a casa que eu comprei estava com toda a sua documentação em ordem. Assim, eu consegui vencer cada etapa do programa, mas isso não ocorre com a maioria da população que mora nesses bairros”, diz o pesquisador.
Para Roseana Norat, membro do Conselho Internacional de Monumentos e Centros Históricos (Icomos) falta visão do poder público quando o assunto é preservação das casas antigas. O assunto, além de ser questão cultural e política, deve ser encarado como um investimento em segurança pública e em um programa habitacional de qualidade.
“O centro histórico de Belém é alvo de violência urbana fora do horário comercial, sobretudo nos finais de semana. Usar os casarões como residências, e não apenas como lojas, garante que haja movimento nas ruas”, defende a pesquisadora, que cita o Rio de Janeiro como exemplo bem sucedido desse tipo de ação.
“Enquanto aqui em Belém, construtoras derrubam tudo, mantendo apenas a fachada, e chamam isso de conservação do patrimônio, no Rio, não há demolição do edifício antigo, mas uma adaptação para receber os moradores”, diz Norat, que pontua tantas outras boas experiências realizadas em cidades como São Luiz (MA), Recife (PE) e São Paulo (SP), além de países da Europa, e o Uruguai. “Ao tornar os casarões imóveis residenciais, eles se tornam vendáveis, e com ótima localização, o que os valoriza. E a clientela existe”.

DENUNCIE

Notifique casos de degradação ou abandono:
DPHAC 4009.9842
Iphan 3224-1825
Fumbel 3230-1387

(Diário do Pará)

Fonte: www.diarioonline.com.br 04/04/2011

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Série Imagens do Patrimônio: A Cidade das Mangueiras

As mangueiras, que se firmaram como paisagem do município de Belém durante a Belle-Époque, se adequaram muito bem ao clima quente e úmido amazônico e seus frutos, junto com sua sombra, passaram a fazer parte da vida da população que habita ou visita a capital paraense. O que poucos sabem é que elas têm origem na Índia e foram trazidas para o Brasil através de práticas de contrabando de sementes e mudas de vegetais de valor no mercado internacional, ação comum durante todo o período colonial e imperial, encontrando aqui uma importância histórica e cultural inegável, chegando a emprestar seu nome à nossa cidade. Essa relevância cultural, artística e histórica fez com que, em 18 de maio de 1994 através da Lei Ordinária nº 7709, as mesmas fossem integradas ao patrimônio histórico e ambiental da cidade de Belém.
É difícil encontrar alguém que não tenha uma história, agradável ou traumática, sobre as árvores: desde os adultos que, quando crianças, corriam para subir nas mangueiras do Cemitério da Soledade e colher os frutos enquanto os pais faziam a feira no bairro da Batista Campos até aqueles que têm seu carro amassado quando estacionam embaixo nas mangueiras para aproveitar sua sombra. Assim como o gosto bom da fruta também deixa incômodos fiapos entre os dentes, a beleza das árvores traz inconvenientes crônicos com os quais a população da cidade aprende a viver e a conviver. Sem dúvidas essa árvore possui um valor afetivo inegável dentro da realidade urbana da capital paraense: desperta paixões e revoltas, atos de defesa ou de condenação. Estas ações vêm permeando a diversidade cultural de Belém por séculos e a proteção à estas memórias coletivas e individuais construídas a partir destas relações de amor e ódio devem ser protegidas por constituir a história e o cotidiano da população como personagens essenciais à caracterização da identidade belenense.
Observando que hoje em dia o projeto urbanístico que inseriu as mangueiras na cidade desde meados o século XVII nas ruas e avenidas não se adequa aos elementos urbanos atuais, precisamos atentar para a forma como preservação das mangueiras tem se dado, ressaltando o fato de se tratarem de seres vivos, passíveis a problemas de conservação diferenciados de outros patrimônios materiais tombados. Muito mais do que ações isoladas, precisamos de ações eficazes entre o poder público, iniciativa privada e organização social civil para que as mangueiras, fontes de cultura e história de nossas ruas, possam fazer parte da realidade das futuras gerações, sendo preservada, valorizada e amada por sua população como nas palavras de João de Jesus Paes Loureiro:

“Ai! Cidade das Mangueiras!
Quem te vê e não te ama?
Por que vagam na cidade
assassinos de mangueiras,
matando-as por querer
ou matando de encomenda,
matando à sombra da lei,
essa lei sem lei, sem lenda?
Essa triste lei da morte
que tem na morte sua vida.
Não deixem que passe impune
esse crime, essa desdita.
Fotografem, multipliquem
vosso “não” pela internet,
pelos blogs, no youtube,
nos orkuts, nos e-mails,
nas asas dos passarinhos
que estão perdendo seus ninhos,
no peito dos que se amam,
nos muros e nos caminhos...”

Texto - Renata Souza Barros
Renata Souza Barros é Historiadora, especialista em Patrimônio Cultural e Educação Patrimonial, professora da rede particular de ensino e vice-diretora de comunicação da ASAPAM





















Fotos: Mauro Ângelo
Mauro Ângelo iniciou sua carreira ao findar dos anos 80, tendo sua formação adquirida a partir das oficinas fotográficas da Fundação Curro Velho. Também possui vasta experiência com trabalhos de laboratório fotográfico, área em que atuou por mais de uma década. Em 2006, foi contratado pelo Museu Paraense Emílio para atuar no projeto "Coleção Fotográfica", recebendo treinamento técnico pela FUNARTE. Atualmente presta serviços como fotojornalista, no jornal paraense "Diário do Pará" e em outras empresas da áreas de comunicação social.

Secult e Caixa firmam parceria que garante recursos para o MAS e Arquivo Público

No total, serão investidos R$ 600 mil, sendo R$ 300 mil para cada instituição. O projeto "MAS: Programa de Acessibilidade aos Portadores de Necessidades Especiais" foi aprovado junto ao programa Patrocínio 2011/2012 e tem como objetivo possibilitar o acesso ao MAS pelos portadores de necessidades especiais através da instalação de elevador, rampas e adaptação de banheiro. "Essas adaptações estavam previstas na planta original, quando concluímos o trabalho em 1999, mas não tivemos recursos para implantá-las na época. Agora, finalmente, podemos concluir esse trabalho e promover a inclusão social das pessoas que tem necessidades especiais", disse Paulo Chaves.
O projeto tem selo da Lei Rouanet (Pronac 08771) tendo como proponente a Associação Cultura, Vida e Profissão - ACVP e a Secult como interveniente junto à Caixa Econômica Federal. "A Caixa é uma instituição com 150 anos de história e com grande preocupação sócio cultural, independente dos partidos políticos que estejam no poder", completou o secretário.
O MAS está vinculado à Secult, localizado no antigo Palácio Episcopal. Foi inaugurado em 28 de setembro de 1998, juntamente com o Sistema Integrado de Museus e Memórias do Pará. O histórico prédio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), marco da arquitetura barroca paraense, comporta a Igreja de Santo Alexandre, construída pelos padres jesuítas com a participação de trabalho indígena entre o fim do século XVII e o início do século XVIII.
Ao Arquivo Público do Estado do Pará (Apep) serão destinados R$ 300 mil para realização do projeto Preservação e Acesso: Proposta de Digitalização da Documentação Colonial. O projeto tem como principal objetivo a digitalização da documentação colonial existente na instituição, que corresponde ao acervo documental da Secretaria de Governo da Capitania - período colonial do Brasil (1649 a 1823).
O resultado esperado é a salvaguarda e a ampliação do acesso a este acervo por meio da mudança do suporte manuscrito para o meio digital. "Esperamos poder contribuir com a preservação da memória da cultura do Pará, que tem grande importância para a nossa identidade regional e nacional", frisou Evandro Lima, superintende regional da Caixa.
O Apep nasce como instituição de guarda e preservação da memória da Amazônia a partir de 1894. Este órgão centenário reúne em seu acervo documentos dos séculos XVII, XVIII e XIX, de valor inestimável para a História do Pará, da Amazônia e fronteiras; por isso a importância em tratá-lo e preservá-lo.
A singularidade da documentação está na memória da formação e transformação das vilas e centros urbanos, dos primeiros moradores e da consolidação de uma população local (europeus, povos indígenas, escravos africanos e seus descendentes), marcada por tensões sociais, econômicas e políticas, da adaptabilidade dos diversos elementos humanos com a natureza, da visão do europeu acerca dos indígenas, escravos africanos e do aspecto físico e biológico da floresta amazônica.
Paulo Chaves disse que os dois projetos serão concluídos em meados do segundo semestre. "Nos estamos na fase de deixar de olhar pelo retrovisor e ligar os faróis. Vamos fazer um levantamento de reformas que devem ser feitas em alguns espaços da Secult e na semana que vem vamos apresentar ao governador um lista de cinco a 10 projetos que serão incluídos na agenda mínima de governo", informou o secretário. 
Também estiveram presentes na cerimônia Rosário Lima, diretora de patrimônio da Secult; Zenaide Paixão, diretora do MAS; Raimunda Gumarães, diretora de marketing da Caixa; Fernando Freitas, presidente da Associação dos Amigos do Arquivo Público; Simone Flores, da Associação Cultura, Vida e Profissão; e Eduardo Pinheiro, diretor do Arquivo Público.

Elielton Amador - Secom

Fonte: www.agenciapara.com.br 01/04/2011

Belém no rumo do turismo de patrimônio

Artistas e profissionais ligados à preservação de patrimônio histórico e artístico iniciam neste mês de abril uma campanha para colocar Belém no seleto grupo de cidades brasileiras que possuem o título de Patrimônio Cultural da Humanidade – construções, trechos urbanos e até ambientes naturais que tenham valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico. A iniciativa é do Fórum Landi, grupo da Universidade Federal do Pará (UFPA) que pesquisa o legado artístico e arquitetônico do italiano Antonio Landi na capital paraense.
A meta da campanha ‘Belém de Landi – Patrimônio Mundial’ é elaborar um dossiê e encaminhá-lo à Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (Unesco), instituição que já concedeu títulos semelhantes a cidades como Ouro Preto, em Minas Gerais; Olinda, em Pernambuco; Salvador, na Bahia e até à vizinha São Luís, no Maranhão. A intenção é que esse resultado saia nos próximos anos e seja um grande presente para Belém quando a cidade comemorar seus 400 anos.
O lançamento da campanha será realizado durante a II Reunião Internacional do Fórum Landi, que acontece junto com o VIII Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte, em memória a Benedito Nunes, entre os dias 4 e 8 deste mês, na UFPA. A medida pretende ainda aproximar o grande público da importância da manutenção e preservação das obras do arquiteto que definiu a Belém dos séculos XVIII e XIX.
Antonio Landi é marca permanente na arquitetura de Belém. O Palácio dos Governadores, a Igreja de Santana, Igreja de São João, a Igreja do Carmo e as fachadas da Catedral de Belém e do convento das Mercês são algumas de suas principais construções. O coordenador executivo do Fórum Landi, Flávio Nassar, afirma, em entrevista ao Caderno Você, que a presença de mais de 40 especialistas em história da arte reforça a proposta e coloca a capital paraense no rumo do turismo de patrimônio no Brasil.
P: A campanha ‘Belém de Landi – Patrimônio Mundial’ é também uma maneira de chamar a atenção da população em geral para a preservação do centro histórico de Belém como um todo?
R: A realização desses eventos e o lançamento da campanha reforçam a importância que essas obras têm para a cidade e a importância da preservação. Até hoje não houve ações suficientes e eficazes que pudessem garantir a sustentabilidade da área central de Belém. A população joga lixo, dilapida, quebra, ou seja, não cuida desse patrimônio. O Antonio Landi acaba sendo um anjo, um santo padroeiro que consegue mostrar sua importância e se sobrepor a essa situação tão indesejável que se encontra no entorno da área do centro histórico.
P: Qual a importância destes dois eventos?
R: Belém, de fato, é uma cidade que tem um patrimônio de qualidade e quantidade. A realização desses dois eventos, debatendo patrimônio e história da arte trará à cidade mais de 40 especialistas na área. Ao visitar Belém, eles levarão esse conhecimento e experiência e, a partir disso, podem surgir estudos novos sobre Belém. Dessa forma, tanto o VIII Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte e a II Reunião Internacional do Fórum Landi cumprem o papel de manter acesa a chama da preservação.
P: Em que formato esse pedido de tombamento chegará ao órgão competente?
R: Nosso objetivo é encaminhar um projeto à Unesco para reconhecer em nível mundial a arquitetura do Landi em Belém. Esse projeto tem uma série de procedimentos e requisitos técnicos. Por isso, que a realização da II Reunião Internacional do Fórum Landi neste momento é muito importante. Através dela poderemos conhecer as experiências de outras cidades que já possuem título de patrimônio mundial - as etapas pelas quais passaram e quais os procedimentos a seguir.
P: E é um processo demorado?
R: Sim, é um processo longo, mas que o Pará precisa, Belém precisa. É necessário que tenhamos monumentos e elementos da nossa cultura reconhecidos como patrimônio mundial. Não tomar essa iniciativa seria até uma forma de desleixo, uma forma relapsa de nos relacionarmos com a nossa cidade. Nossa ideia é que a obtenção desse registro possa ser nosso presente para os 400 anos de Belém. Por isso, é muito importante manter eventos com foco na história e patrimônio, mantendo isso sempre vivo.
P: O que exatamente a II Reunião Internacional do Fórum Landi abordará?
R: A reunião busca manter grupos de trabalho com temáticas específicas voltadas à história e à sociedade da Amazônia, educação patrimonial, gestão do patrimônio artístico, arquitetônico e urbanístico e arte e cultura visual. Sempre acompanhando as obras do italiano. Durante a reunião, serão cadastradas pessoas interessadas em participar da elaboração do dossiê do projeto, sejam profissionais ou pessoas com tempo disponível para ajudar na formação desse material.
P: O Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte já passou por algumas cidades do Brasil e de Portugal. O que ele traz de novo nesta oitava edição?
R: Em 2011, será a primeira vez que um país africano participará do evento. A partir desta edição queremos que o Colóquio se transforme num evento lusófono, envolvendo todos os países de língua portuguesa como os africanos, Moçambique e Angola; Macau, na China; e Goa, na Índia. Cabo Verde estará representado pelo arquiteto Fernando Pires; pelo reitor da Universidade de Cabo Verde, Antônio Corrêa e Silva; e pelo arquiteto e artista plástico Rosário Djosa, que estará em cartaz com uma exposição durante todo o evento, no foyer do Centro de Eventos Benedito Nunes, da UFPA. Este ano, o Colóquio tem como tema ‘O Patrimônio como Língua, a Língua como Patrimônio’ e vai destacar a linguagem como o maior patrimônio de um povo. Toda a programação de conferências, mesas redondas, mini cursos e até a parte cultural tem ligação com a linguagem.
P: O evento é em memória ao professor e escritor paraense Benedito Nunes. Como surgiu a idéia de homenageá-lo?
R: O professor Benedito Nunes tem uma importância enorme para as artes e para o Estado do Pará. Ele participaria do Colóquio, então após o seu falecimento, decidimos que o Colóquio seria em memória dele. Foi ele que abriu a primeira Reunião do Fórum Landi, em 2003, portanto teve uma ligação muito forte com o evento. Inclusive, quando confirmarmos a nova edição da Reunião junto com o Colóquio, alguns profissionais solicitaram uma visita ao Benedito, tamanha a representatividade que ele teve e vai continuar tendo para toda a sociedade.
P: Quem participará da homenagem?
R: Durante o Colóquio teremos momentos que chamamos de ‘Tributo a Benedito Nunes’, que antecedem as conferências que dão início à programação do dia. Três pessoas ligadas ao professor, amigos dele, prestarão uma homenagem falando sobre a vida do escritor e a ligação entre eles. Os participantes serão o norte-americano Kenneth David Jackson; Lauro Moreira, embaixador do Brasil junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, e o filósofo paraense Vitor Pinheiro. (Diário do Pará)

Fonte: www.diarioonline.com.br  1/04/2011