As mangueiras, que se firmaram como paisagem do município de Belém durante a Belle-Époque, se adequaram muito bem ao clima quente e úmido amazônico e seus frutos, junto com sua sombra, passaram a fazer parte da vida da população que habita ou visita a capital paraense. O que poucos sabem é que elas têm origem na Índia e foram trazidas para o Brasil através de práticas de contrabando de sementes e mudas de vegetais de valor no mercado internacional, ação comum durante todo o período colonial e imperial, encontrando aqui uma importância histórica e cultural inegável, chegando a emprestar seu nome à nossa cidade. Essa relevância cultural, artística e histórica fez com que, em 18 de maio de 1994 através da Lei Ordinária nº 7709, as mesmas fossem integradas ao patrimônio histórico e ambiental da cidade de Belém.
É difícil encontrar alguém que não tenha uma história, agradável ou traumática, sobre as árvores: desde os adultos que, quando crianças, corriam para subir nas mangueiras do Cemitério da Soledade e colher os frutos enquanto os pais faziam a feira no bairro da Batista Campos até aqueles que têm seu carro amassado quando estacionam embaixo nas mangueiras para aproveitar sua sombra. Assim como o gosto bom da fruta também deixa incômodos fiapos entre os dentes, a beleza das árvores traz inconvenientes crônicos com os quais a população da cidade aprende a viver e a conviver. Sem dúvidas essa árvore possui um valor afetivo inegável dentro da realidade urbana da capital paraense: desperta paixões e revoltas, atos de defesa ou de condenação. Estas ações vêm permeando a diversidade cultural de Belém por séculos e a proteção à estas memórias coletivas e individuais construídas a partir destas relações de amor e ódio devem ser protegidas por constituir a história e o cotidiano da população como personagens essenciais à caracterização da identidade belenense.
Observando que hoje em dia o projeto urbanístico que inseriu as mangueiras na cidade desde meados o século XVII nas ruas e avenidas não se adequa aos elementos urbanos atuais, precisamos atentar para a forma como preservação das mangueiras tem se dado, ressaltando o fato de se tratarem de seres vivos, passíveis a problemas de conservação diferenciados de outros patrimônios materiais tombados. Muito mais do que ações isoladas, precisamos de ações eficazes entre o poder público, iniciativa privada e organização social civil para que as mangueiras, fontes de cultura e história de nossas ruas, possam fazer parte da realidade das futuras gerações, sendo preservada, valorizada e amada por sua população como nas palavras de João de Jesus Paes Loureiro:
“Ai! Cidade das Mangueiras!
Quem te vê e não te ama?
Por que vagam na cidade
assassinos de mangueiras,
matando-as por querer
ou matando de encomenda,
matando à sombra da lei,
essa lei sem lei, sem lenda?
Essa triste lei da morte
que tem na morte sua vida.
Não deixem que passe impune
esse crime, essa desdita.
Fotografem, multipliquem
vosso “não” pela internet,
pelos blogs, no youtube,
nos orkuts, nos e-mails,
nas asas dos passarinhos
que estão perdendo seus ninhos,
no peito dos que se amam,
nos muros e nos caminhos...”
Texto - Renata Souza Barros
Renata Souza Barros é Historiadora, especialista em Patrimônio Cultural e Educação Patrimonial, professora da rede particular de ensino e vice-diretora de comunicação da ASAPAM
Contato: renatabarros.historia@hotmail.com
Fotos: Mauro Ângelo
Mauro Ângelo iniciou sua carreira ao findar dos anos 80, tendo sua formação adquirida a partir das oficinas fotográficas da Fundação Curro Velho. Também possui vasta experiência com trabalhos de laboratório fotográfico, área em que atuou por mais de uma década. Em 2006, foi contratado pelo Museu Paraense Emílio para atuar no projeto "Coleção Fotográfica", recebendo treinamento técnico pela FUNARTE. Atualmente presta serviços como fotojornalista, no jornal paraense "Diário do Pará" e em outras empresas da áreas de comunicação social.
Mauro Ângelo iniciou sua carreira ao findar dos anos 80, tendo sua formação adquirida a partir das oficinas fotográficas da Fundação Curro Velho. Também possui vasta experiência com trabalhos de laboratório fotográfico, área em que atuou por mais de uma década. Em 2006, foi contratado pelo Museu Paraense Emílio para atuar no projeto "Coleção Fotográfica", recebendo treinamento técnico pela FUNARTE. Atualmente presta serviços como fotojornalista, no jornal paraense "Diário do Pará" e em outras empresas da áreas de comunicação social.
Contatos: mauroange@gmail.com
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