Cercados de mato, lixo e rachaduras, Monumentos de Belém estão abandonados
Um dos mais deteriorados e mais visíveis de Belém é o monumento em memória à Cabanagem (1835 a 1840), revolta popular no Pará em que o povo assumiu o poder após a independência do Brasil. A obra do arquiteto Oscar Niemeyer fica no centro do complexo viário do Entroncamento. A obra está toda pichada. Ao redor, mato alto e muito lixo. O lago ao redor transbordou e impede parte do acesso, além de estar muito poluído. Em algumas partes há marcas deixadas por fogueiras acesas por moradores de rua que ficam no entorno. Outras obras no município não estão diferentes.
Outro monumento, mas que retrata um evento mais recente, é o Pilar da Infâmia, na praça da Leitura, em São Brás, em memória do massacre de Eldorado dos Carajás, no dia 17 de abril de 1996. A obra é uma coluna de pessoas com expressões de sofrimento e desespero. E perto de completar 15 anos desde a morte de 19 sem-terras num confronto com a Polícia Militar do Pará, a obra já apresenta sinais de abandono. A coluna está com várias rachaduras, sendo uma horizontal e profunda no meio. O mato alto ao redor encobriu parte do nome do pilar em inglês. As escrituras sujas e difíceis de ler dizem: "O velho não pode eternamente destruir o novo". Por todo o monumento há ferrugem.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), responsável por monumento históricos em praça do município, informou, em nota, que já está fazendo um levantamento nos monumentos das praças que precisam ser restaurados. O busto de Getúlio Vargas, na praça Pedro Teixeira; o monumento do general Maximiniano Gurjão, na praça D. Pedro II e o Pilar da Infâmia, na praça da Leitura, já fazem parte da programação de manutenção da Semma, que inclui os serviços de limpeza, restauração, reforma, entre outros.
A Secretaria de Estado de Cultura (Secult) foi procurada mas não deu resposta sobre o monumento da Cabanagem. Especialista aponta a falta de manutenção ao longo dos anos
A arquiteta Roseane Norat, especialista em Restauração e Preservação do Patrimônio Arquitetônico e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), ressalta que os monumentos históricos de Belém estão tão abandonados e sujos quanto a própria cidade. Isso ocorreu pelo descaso e falta de manutenção ao longo dos anos, refletindo inércia da administração municipal. Contudo, sem agregar valor cultural, incentivar visitas e proteger o patrimônio, o vandalismo piorou o aspecto dessas obras e a própria população já não se importa.
"Nos monumentos que estão em praças, só as praças recebem alguma manutenção e só paisagística. Não há uma manutenção permanente e nem cuidados especializados. Já bastaria limpar com água e sabão neutro, mas nem isso. É preciso que a população seja vigilante, tome estas obras para si e cobre do poder público", comentou a arquiteta.
Norat lembra que estes monumentos históricos são memórias da história de Belém e do Pará, tanto do passado quanto de eventos mais recentes, como o Pilar da Infâmia. Mesmo assim muitas pessoas desconhecem o que as esculturas representam, mesmo quando elas possuem informações escritas na própria obra. "A população precisa valorizar mais. As escolas deveriam fazer visitas a estas obras e explicar os fatos que representam. Estes trabalhos carregam nossas memórias e muita gente não tem ideia do que se trata", conclui.
MONUMENTOS ABANDONADOS
1. MONUMENTO À CABANAGEM (ENTRONCAMENTO): Obra do arquiteto Oscar Niemayer em Belém. A rampa representa a caminhada do povo cabano. A rachadura no topo da rampa representa a falha do governo cabano. O monumento está todo pichado, cercado de mato e lixo. Serve de abrigo para moradores de rua. As catacumbas não podem mais ser visitadas. O lago ao redor está imundo.
2. BUSTO DE PRESIDENTE VARGAS (PRAÇA PEDRO TEIXEIRA): Busto em bronze do presidente Getúlio Vargas. Possui a inscrição "Amazônia agradecida". A peça está solta no pedestal e inclinada. É possível ver um espaço entre a obra e o apoio. Está suja.
3. ESTÁTUA DO GENERAL MAXIMINIANO GURJÃO (PRAÇA DOM PEDRO II): Mesmo estando em frente da Prefeitura de Belém, a estátua de bronze está coberta de ervas daninhas, mato, fezes de aves e limo, desde a base de pedra de lioz (mármore). Homenagem ao general brasileiro que morreu no combate de Itororó, em 17 de janeiro de 1869.
Fonte: www.orm.com.br/amazonia 08/04/2011
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