domingo, 6 de fevereiro de 2011

Prédios históricos de Belém podem desabar, diz Iphan

Com uma arquitetura admirável, deixada como herança dos portugueses que fundaram Belém, os casarões do bairro da Cidade Velha, que mesmo há muito tempo abandonados, resistem de pé e ainda encantam quem passa pelo local.  Rubens Lobato, popularmente conhecido como 'Rubão' e dono de um dos bares mais movimentados do bairro, sabe muito bem o valor histórico dos prédios que o rodeia. 'Eu amo ficar observando esses casarões. E por serem tão antigos se torna uma paisagem muito bonita'.
A arquiteta Alice Rodrigues Rosa, da câmara especializada de arquitetura do CREA/Pa (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Pará), explica o motivo de eles ainda estarem firmes, mesmo depois de tanto tempo abandonados: 'Esses imóveis foram construídos com paredes mais robustas, com cerca de 30 centímetros. Além disso, eles eram feitos de alvenaria entrelaçada e cimento de argila, o que proporciona uma estabilidade maior. O problema é que essas edificações não podiam ser muito altas. Apenas com o advento do concreto armado é que foi possível a construção de prédios mais elevados'.
‘Rubão’, que apesar de não ser arquiteto e nem entender muito de cálculos estruturais ou estudos de solo, acredita que os casarões antigos da Cidade Velha foram mesmo construídos para durarem séculos. 'Sempre soube que essas casas têm uma estrutura muito boa. Vêm as chuvas e tudo alaga, mas elas continuam de pé. Creio que são até melhores do que essas modernas',  comenta, relembrando o desabamento do prédio Real Class, de 34 andares, em São Bráz, que deixou três mortos no último dia 29 de janeiro.
Com portes bem menores, mas construídos sob medida para resistirem aos danos do tempo, os cerca de 190 imóveis que ainda interessam à preservação na Cidade Velha, também correm o risco de cair, embora por motivos nem cogitados como uma das causas da queda do edifício em São Bráz. 'Certamente que esses imóveis antigos correm o risco de desabar. Todo período de chuva isso acontece com aquelas edificações, que se encontram em completo estado de abandono', afirma a superintendente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Maria Dorotea Lima.
Essa situação também preocupa Dauana Farias, de 20 anos, que se considera uma grande admiradora dessa arquitetura. 'Passei a frequentar mais o bairro há três anos, porque meu namorado mora lá. Adoro andar por ali, observar as casas antigas, mas algumas estão muito abandonadas, completamente tomadas pelo mato. Tenho até receio de alguma casa dessas cair um dia de tão abandonadas', disse
Dados da Sesma (Secretaria Municipal de Meio Ambiente), divulgados na semana passada, identificaram 259 imóveis fechados no centro histórico de Belém, sendo que 98 são terrenos baldios e edificações em estado de abandono. 'As políticas federais hoje implicam em ações coordenadas e concomitantes que envolvem a restauração das edificações, a recuperação do espaço urbano, a implementação dos serviços urbanos e o fomento às atividades educativas associadas ao meio ambiente e ao patrimônio cultural, o fomento às atividades econômicas e à qualificação profissional', afirma a superintendente.
E não é de hoje que essas edificações são preocupação dos órgãos públicos. Esses casarões, palácios, igrejas e praças são patrimônio de Belém, do Pará e também do Brasil. Os tombamentos federais foram iniciados na década de 1940 e seguiram até a década de 1990. O tombamento do centro histórico de Belém, no entanto, é de 1994.
De acordo com Dorotea, a maioria dessas edificações é de propriedade particular. Os monumentais como palácios, igrejas, conventos estão sob a posse ou guarda do poder público estadual, municipal e federal e também da Igreja Católica. Para ela, somente uma ação conjunta seria capaz de recuperar esses imóveis e mantê-los preservados. 'Além da mobilização dos proprietários, seria necessária uma parceria entre as três esferas de governo para a elaboração de um projeto de acordo com as diretrizes dos programas federais para a recuperação de áreas urbanas centrais, degradas e do patrimônio cultural. Hoje há muitos caminhos possíveis para viabilizar esses projetos, mas os estados e municípios precisam considerar esta questão prioritária e também como possibilidade de desenvolvimento econômico, fator de geração de emprego e renda e formação de cidadãos', explica.
Quem mora perto, ou admira essa arquitetura, como Rubens e Dauana, desejam que projetos de restauração e preservação desses patrimônios saiam do papel, e logo. 'Preservar custa caro, mas é necessário. Até quando vamos continuar perdendo esses  exemplares que já fazem parte da cultura do paraense?', questiona Alice.



Fonte: Redação Portal ORM, 05/02/2011. http://www.orm.com.br/

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