segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Descaso consome o Mercado de Ferro

Sete anos depois de uma grande reforma, o Mercado de Ferro do Ver-o-Peso, maior ícone de Belém, está caindo aos pedaços. Duas chapas de metal e uma esquadria apodrecidas pelo ferrugem despencaram de uma das torres e abriram um buraco no mais conhecido cartão postal da cidade. O telhado do Mercado, sem reparos desde a reforma concluída em 2003, não protege o prédio histórico da água da chuva. Vazamentos e goteiras comprometeram as instalações elétricas. Das 20 luminárias, apenas três funcionam.



Para enfrentar a escuridão nas madrugadas do Ver-o-Peso, os peixeiros improvisaram bocais e lâmpadas ligados precariamente à rede de energia da feira, com graves riscos à integridade física às milhares de pessoas que circulam naquele patrimônio cultural. A coleta do lixo precária deixa detritos espalhados sob as barracas do mais célebre mercado da região amazônica.
A falta de cuidado está por todo o lado. A placa da inauguração foi partida ao meio. Não é possível mais ler a data em que foi concluída a obra, iniciada em 1899. Os 120 peixeiros que trabalham no mercado não têm energia nos boxes e a sujeira aproxima o Ver-o-Peso das feiras medievais. 'Nós estamos esperando que a prefeitura se mexa. São sete anos sem nenhum reparo, de um total abandono', afirma o presidente do Sindicato dos Peixeiros, Fernando Souza, que trabalha no mercado.
A insatisfação é tanta que até os feirantes de fora do Mercado de Ferro se manifestaram. Uma faixa registra: ''Ver-o-Peso, cartão postal do nosso estado. Abandonado! Imagine como deve estar o resto da cidade'. Por fora, o ferrugem se espalha por quase todas as chapas da estrutura de metal. No alto das torres, ervas daninhas alimentam as aves que usam o telhado como poleiro.


Tombado - Em 1977, o conjunto arquitetônico e paisagístico do Ver-o-Peso foi tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Em junho de 2010, o Mercado de Ferro foi incluído na lista de bens que terão a reforma custeada por recursos do governo federal pelo PAC Cidades Históricas, um programa de requalificação urbanística de áreas históricas e recuperação de espaços públicos.
A previsão de investimentos do PAC Cidades Históricas para Belém é de R$ 370 milhões entre 2010 e 2013, mais da metade do total que se destina ao estado. Além do Mercado de Ferro (também conhecido como Mercado de Peixe), serão restaurados o Solar da Beira (que abrigará um Centro de Referência sobre o Ver-o-peso para a recepção de visitantes), o Palácio Antonio Lemos e o Cemitério da Soledade, além de outros espaços em Icoaraci e Cotijuba.
O programa também prevê a capacitação de professores na área de educação ambiental e patrimonial e a normatização das áreas protegidas por tombamento. Quem vem de fora e encontra o mercado na situação em que está, se surpreende com a falta de cuidado com o patrimônio histórico e arquitetônico. A pesquisadora paulista Cristina Rodrigues, em visita a Belém para a conclusão de um doutorado, registrava, ontem, em fotografias, o abandono do Mercado de Ferro. Cristina conclui um trabalho de pesquisa na James Cook University, na Austrália, que apontará atrativos turísticos das duas grandes cidades da região amazônica, Belém e Manaus, e as possibilidades de melhorias.
A impressão que ela leva na bagagem, adequada ao cenário de destruição e abandono que ela pôde ver ontem no Ver-o-Peso, é a de que Belém ainda tem muito o que aprender com a vizinha mais nova e mais conservada que herdará, sem nenhuma injustiça, o título de metrópole da Amazônia.

Fonte: O Liberal - http://www.orm.com.br/
Fotos: Paula Sampaio (O Liberal)

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