sexta-feira, 20 de maio de 2011

Riquezas e contrastes do Mercado de São Brás

Imponente, com uma cobertura feita de ladrilhos em preto e branco, paredes amarelas com quase um metro de largura e uma calçada extensa, surgia, no dia 21 de maio de 1911, o Mercado de São Brás. Ele enfeita Belém desde o ciclo da borracha com sua mistura de elementos neoclássicos com art nouveau, onde o ferro e o vidro pontuam como matéria-prima, escolhas do arquiteto italiano Filinto Santoro.
“Eu vim visitar um amigo que trabalhava aqui e acabei ficando por aqui mesmo. Passei por cada coisa, tenho muitas histórias nesse mercado, lembro da época da ditadura quando fomos retirados daqui pra uma feira livre na Praça do Operário e de lá para a feira da 25, e depois voltamos pra cá, quando só ficaram aqui os vendedores de artesanato”, relembrou o feirante Geraldo Lisboa Sales, 69 anos.
Alimentando os frequentadores e trabalhadores do mercado há 48 anos, Geraldo conhece bem a história do local: “ali onde ficam os dois castelos funcionavam banheiros públicos, e o prédio do meio era um albergue, Isso na época que a estrada de ferro passava por aqui e a movimentação era grande com as pessoas indo e vindo do interior. Hoje o albergue virou praça de alimentação, onde eu trabalho e afirmo que, se não fossemos nós limpar, ninguém faria”, completa.
Ele enfatizou que o melhor de ser feirante é o trabalho com o público. “É a melhor coisa, tem que passar muita credibilidade para conquistar fregueses. Eu adoro esse prédio porque já aprendi muita coisa aqui, no dia a dia”, apontou.
No complexo também são comercializados produtos de artesanato, pet shops, vestuário, mobília, artigos de umbanda, ervas, e conserto de ventilador a sapatos, CDs e DVDs, passando pelos tradicionais barbeiros e engraxates.
Outra que está na feira há um bom tempo – 38 anos – é a vendedora de tempeiros Conceição Lima, 79 anos. “Eu não era de feira, mas com a morte do meu marido que era comerciante, eu tive que enfrentar a vida e vim pra cá trabalhar, gosto muito das amizades e dos clientes”, contou.
Atuando há 30 anos como sapateiro, ofício que herdou do pai e já passou para o filho, José Ribamar Sodré da Silva disse que o mercado anda desprestigiado pelo público nos últimos anos. “Tenho alguns fregueses fiéis, mas antes de estar funcionando o Passe Fácil aqui dentro, o movimento andava menor, não entendo por que retiraram a parada de ônibus daqui da frente do mercado, nesse tempo era muito bom por que muita gente descia aqui e agora as pessoas têm que atravessar de lá da José Malcher e aí fica mais difícil”, pontuou.
O sapateiro acha que é preciso divulgar melhor o Mercado de São Brás – que fica num lugar estratégico, no cruzamento entre as avenidas Almirante Barroso, Magalhães Barata e José Bonifácio - assim como zelar mais por ele, conservar o espaço e limpar regularmente. “Acho que os marginais e ‘papudinhos’ que circulam por aqui espantam as pessoas, então precisamos de mais segurança aqui e lá embaixo no túnel, precisamos melhorar e divulgar esse mercado por que do contrário as pessoas esquecem que tem uma variedade grande de serviços que podem encontrar aqui”.

Feirantes querem que mercado seja modelo

Frequentador assíduo, o verdureiro Raimundo dos Santos acha o mercado tranquilo, onde encontra artigos de qualidade: “sempre faço minha feira aqui e há uns dez anos almoço aqui na barraca da Madá, a carne assada é uma delícia”.
A dona de casa Maria José Gomes de Castro recorre muitas vezes ao mercado por achar os supermercados muito caros e pouco convidativos. “Aqui o ambiente é melhor e o preço mais em conta, compro vassoura, farinha, de tudo mesmo, venho umas quatro vezes na semana”.
A Presidente da Associação de Empreendedores do Mercado de São Brás, a vendedora de ervas Rosana Araújo, apontou como uma das principais dificuldades enfrentadas a falta da segurança no prédio e áreas nos arredores. “Antes existia um posto da guarda municipal, mas o prefeito mandou retirar daqui, se você olhar a praça virou abrigo, assim como o subterrâneo que devia servir como estacionamento e depósito”, citou.
Segundo ela, a limpeza do complexo é feita por uma cooperativa de limpeza contratada pela associação, já que a prefeitura lava apenas a área externa do mercado, a cada dois meses.
“O espaço está deteriorado, aqui no mercado central temos muitas goteiras, infiltrações nas paredes, precisamos do apoio do poder público para que dure mais 100 anos”, arrematou Rosana, acrescentando que os feirantes desejam transformar o São Brás em um mercado modelo.
Luiz Carlos Silva, diretor geral da Secretaria Municipal de Economia, informou que foi feita uma reforma ano passado no telhado do mercado central. “Mas vamos precisar reformar esse telhado novamente por conta das infiltrações e goteiras, assim como o telhado da praça de alimentação, as obras começam assim que terminar o período chuvoso”, afirmou.
Quanto ao posto da guarda municipal que foi retirado e a falta de segurança no mercado, onde recentemente aconteceu a morte de um morador de rua que foi esfaqueado, ele admitiu que apenas o mercado do Ver-O-Peso ainda possui um posto fixo.
Ele disse que em São Brás o policiamento é feito por dois policiais militares que ficam no complexo das 6h às 18h. “Tem ainda uma viatura da PM que passa de hora em hora, mas nós sabemos que não é o suficiente para resolver o problema social dos moradores de rua que vivem no entorno e no próprio subterrâneo do mercado, apesar de que a iluminação pública foi recuperada e isso ajuda a diminuir a criminalidade no local”, acrescentou Silva.

PROGRAMAÇÃO

Nesta sexta-feira (20), a Polícia Civil e da Delegacia Regional do Trabalho emitem a 1ª via das carteiras de Identidade e Profissional durante toda a manhã.
No sábado, o dia do centenário, a programação inicia às 8h30 com uma cerimônia inter-religiosa que contará com representantes das Igrejas Católica, Evangélica e do movimento Umbandista.
Depois disso, o mercado será envolvido num abraço simbólico e, na sequência, a banda musical da Guarda Municipal de Belém fará uma participação e todos serão convidados a cantar os parabéns ao Mercado de São Brás. (Diário do Pará)

 

Fonte: www.diarioonline.com.br 20/05/2011

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