Fonte: http://www.diarioonline.com.br/ 15/01/2011
Quando Antônio Giuseppe Landi morreu, em Belém, no ano de 1791, com quase 78 anos de idade, encerrou-se a carreira de um artista que durante 53 anos, no Brasil, em Portugal e na Itália, produziu cerca de 400 obras entre gravuras, desenhos, projetos arquitetônicos e edificações construídas. Quase a metade da vida dele fora passado na Amazônia, e, apenas em Belém, ele construiu ou participou da construção: 1) do Palácio dos Governadores; 2) de igrejas - de São João, Santana, Mercês, Carmo, Rosário dos Homens Pretos, Santo Alexandre; 3) de capelas - da família Pombo, do engenho do Murutucu, da Cadeia (a de Santa Rita), da Ordem Terceira do Carmo, e, da Ordem Terceira dos Franciscanos. E, ainda do Hospital Militar, e, de alguns sobrados da cidade.
No entanto, como observou o historiador Aldrin Moura, numa comunicação apresentada durante o Seminário “Landi e o século XVIII”, o nome de Landi seria mantido no esquecimento dentro do Pará durante muitas décadas porque ele ficou associado ao governo absolutista português que o contratou, em 1750, para atuar como membro da comissão demarcadora de limites encarregada de atuar na Amazônia.
O pesquisador afirmou que desde “os confins do século XVIII”, até 1903, Landi se tornou um completo desconhecido entre os artistas, intelectuais e políticos paraenses. “Os poucos que o lembravam, o tinham em baixa estima, com modelo-mor de uma arte conservadora, tacanha, absolutista e completamente importada”, disse Aldrin. Depois, ele acrescentou: “Antonio Landi, bem entendido, representava o velho, o ultrapassado, o antigo regime. A imagem era do aristocrata, do senhor de engenho, do proprietário de escravos e do apadrinhado da coroa portuguesa. O fim do século XIX lia a colônia com desdém e, mais do que isto, procurava riscar do mapa esses tempos da dominação portuguesa”.
O pesquisador tinha razão. De fato, o desprezo por Landi surgiu ainda no período do Pará Colonial, no final da vida do arquiteto, transcorrido no início da última década do século XVIII, quando se extinguiu o contexto político no qual ele se firmou como um profissional de prestígio junto às autoridades portuguesas, após anos de exercício do sacrificado e arriscado ofício de demarcador de limites das possessões de Portugal no antigo Grão-Pará.
Um dos raros documentos produzidos naquele período, com referência ao nome de Landi, o relaciona à igreja de Santana. Mas, até neste documento houve uma tentativa de diminuir a importância do arquiteto. Tratou-se de um texto produzido pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, cientista sintonizado com a nova ordem instalada no reino português, chamada significativamente de “Viradeira”, e, posterior àquela na qual Landi chegou a ser valorizado. Seu título: “Miscelânea histórica para servir de explicação ao prospecto da cidade do Pará”. Nele, Ferreira apresenta uma “descrição da cidade de Belém do Pará e dos edifícios nela existentes”.
O texto surgiu em 19 de em setembro de 1784. Portanto, apenas dois anos após a inauguração da Igreja de Santana, cuja construção teve uma relevância especial para Landi. Ele a executou em homenagem à sua santa protetora, sem nada receber por seu trabalho. Ao contrário, chegou a aplicar na igreja dinheiro de seu próprio bolso.
No texto, Ferreira, inicialmente, omite o nome do arquiteto entre aqueles que cita como patrocinadores das obras da igreja. Diz o naturalista: “E fizeram a igreja os irmãos do Sacramento com as esmolas que pediram pelos moradores do Estado... A 2 de fevereiro (de 1782), celebrou a abertura dela, com grande solenidade, e à sua custa, o juiz da irmandade o capitão Ambrósio Henriques... Ao sobredito Ambrósio Henriques deve a irmandade dez para doze mil cruzados que ele gastou com as obras da igreja”.
Depois, o naturalista, pretendeu apontar um defeito na obra de Landi. Afirmou que a igreja: “é feita de pedra e cal, pelo risco à romana, que deu Antônio José Landi, porém já principiou a rarear tanto a parede do frontispício, como a de um dos lados da capela mor, por defeito da obra”.
Segundo a pesquisadora Isabel Mayer Mendonça, em “António José Landi (1713-1791) - Um artista entre dois continentes”, o suposto defeito, detectado por Alexandre Rodrigues Ferreira, poderia ser explicado pela demoradíssima construção do templo. A falta de recursos provocou seguidas interrupções naquelas obras, uma das quais por cinco anos - de 1767 a 1772, até estendê-las por 20 anos. Independentemente disto, no entanto, aquele comentário depreciativo de Alexandre Ferreira teve a mesma natureza dos comentários dirigidos por ele ao Palácio dos Governadores, de Belém, também levantado por Landi.
Até 1951, o nome de arquiteto foi lembrado apenas duas vezes. E, ainda assim, em Portugal, num verbete de dicionário e numa menção ligeira em obra especializada. Somente naquele ano, se iniciou um ciclo de estudos profundos sobre suas obras, a partir da publicação de um ensaio nos Anales del Instituto de Arte Americano e Investigadores Estéticos, de Buenos Aires, escrito pelo decano do Colégio de Arte, daquela cidade, Robert Chester Smith, também professor da Universidade da Pensilvânia. (Oswaldo Coimbra, Diário do Pará)
No entanto, como observou o historiador Aldrin Moura, numa comunicação apresentada durante o Seminário “Landi e o século XVIII”, o nome de Landi seria mantido no esquecimento dentro do Pará durante muitas décadas porque ele ficou associado ao governo absolutista português que o contratou, em 1750, para atuar como membro da comissão demarcadora de limites encarregada de atuar na Amazônia.
O pesquisador afirmou que desde “os confins do século XVIII”, até 1903, Landi se tornou um completo desconhecido entre os artistas, intelectuais e políticos paraenses. “Os poucos que o lembravam, o tinham em baixa estima, com modelo-mor de uma arte conservadora, tacanha, absolutista e completamente importada”, disse Aldrin. Depois, ele acrescentou: “Antonio Landi, bem entendido, representava o velho, o ultrapassado, o antigo regime. A imagem era do aristocrata, do senhor de engenho, do proprietário de escravos e do apadrinhado da coroa portuguesa. O fim do século XIX lia a colônia com desdém e, mais do que isto, procurava riscar do mapa esses tempos da dominação portuguesa”.
O pesquisador tinha razão. De fato, o desprezo por Landi surgiu ainda no período do Pará Colonial, no final da vida do arquiteto, transcorrido no início da última década do século XVIII, quando se extinguiu o contexto político no qual ele se firmou como um profissional de prestígio junto às autoridades portuguesas, após anos de exercício do sacrificado e arriscado ofício de demarcador de limites das possessões de Portugal no antigo Grão-Pará.
Um dos raros documentos produzidos naquele período, com referência ao nome de Landi, o relaciona à igreja de Santana. Mas, até neste documento houve uma tentativa de diminuir a importância do arquiteto. Tratou-se de um texto produzido pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, cientista sintonizado com a nova ordem instalada no reino português, chamada significativamente de “Viradeira”, e, posterior àquela na qual Landi chegou a ser valorizado. Seu título: “Miscelânea histórica para servir de explicação ao prospecto da cidade do Pará”. Nele, Ferreira apresenta uma “descrição da cidade de Belém do Pará e dos edifícios nela existentes”.
O texto surgiu em 19 de em setembro de 1784. Portanto, apenas dois anos após a inauguração da Igreja de Santana, cuja construção teve uma relevância especial para Landi. Ele a executou em homenagem à sua santa protetora, sem nada receber por seu trabalho. Ao contrário, chegou a aplicar na igreja dinheiro de seu próprio bolso.
No texto, Ferreira, inicialmente, omite o nome do arquiteto entre aqueles que cita como patrocinadores das obras da igreja. Diz o naturalista: “E fizeram a igreja os irmãos do Sacramento com as esmolas que pediram pelos moradores do Estado... A 2 de fevereiro (de 1782), celebrou a abertura dela, com grande solenidade, e à sua custa, o juiz da irmandade o capitão Ambrósio Henriques... Ao sobredito Ambrósio Henriques deve a irmandade dez para doze mil cruzados que ele gastou com as obras da igreja”.
Depois, o naturalista, pretendeu apontar um defeito na obra de Landi. Afirmou que a igreja: “é feita de pedra e cal, pelo risco à romana, que deu Antônio José Landi, porém já principiou a rarear tanto a parede do frontispício, como a de um dos lados da capela mor, por defeito da obra”.
Segundo a pesquisadora Isabel Mayer Mendonça, em “António José Landi (1713-1791) - Um artista entre dois continentes”, o suposto defeito, detectado por Alexandre Rodrigues Ferreira, poderia ser explicado pela demoradíssima construção do templo. A falta de recursos provocou seguidas interrupções naquelas obras, uma das quais por cinco anos - de 1767 a 1772, até estendê-las por 20 anos. Independentemente disto, no entanto, aquele comentário depreciativo de Alexandre Ferreira teve a mesma natureza dos comentários dirigidos por ele ao Palácio dos Governadores, de Belém, também levantado por Landi.
Até 1951, o nome de arquiteto foi lembrado apenas duas vezes. E, ainda assim, em Portugal, num verbete de dicionário e numa menção ligeira em obra especializada. Somente naquele ano, se iniciou um ciclo de estudos profundos sobre suas obras, a partir da publicação de um ensaio nos Anales del Instituto de Arte Americano e Investigadores Estéticos, de Buenos Aires, escrito pelo decano do Colégio de Arte, daquela cidade, Robert Chester Smith, também professor da Universidade da Pensilvânia. (Oswaldo Coimbra, Diário do Pará)
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