quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

E o Palacete foi entregue...

                                                      Fotos: Rogério Uchôa

E em meio à pompa digna dos tempos áureos da borracha, eis que é entregue pela Prefeitura de Belém o Palacete Pinho, símbolo do luxo e do poder aquisitivo da época da Belle Epoque na Belém do final do século XIX e início do século XX.
Prefeito, políticos, repórteres, muitas câmeras, som ambiente e pessoas... Um amontoado de pessoas tentando ver que “agora, completamente revitalizado e restaurado, o Palacete preserva as suas características originais desde a sua construção em 1897 e torna-se um espaço voltado para a cultura, artes e música, acessível para toda a população de Belém”, segundo o texto do postal promocional impresso em homenagem a essa grande data e distribuído gratuitamente aos que visitaram o prédio na noite de 11 de janeiro de 2011.
O fato é que ainda não há determinada a finalidade para o espaço que foi lindamente ornado para receber a presença da sociedade belenense na véspera do aniversário da cidade. Apesar de pessoas trajadas a rigor e atores usando vestimentas de época, móveis escolhidos para ilustrar os tempos idos, a entrega ainda não abre as portas do Palacete para uso da população, dada a visível impressão de que os andares superiores ainda necessitam de ajustes elétricos e estruturais; além do mais, a indefinição do uso (alguns sugerem um órgão público relacionado à turismo, outros comentam sobre a criação de um espaço cultural múltiplo para sediar exposições e mostras ou ainda uma escola de música e artes) permite supor que alguns trâmites burocráticos ainda nos afastarão por algum tempo do belíssimo espaço.

De acordo com entrevista dada ao jornal “O Diário do Pará” publicada na data da entrega do prédio, Raimundo Pinheiro, presidente da Fundação Cultural de Belém (FUMBEL), diz que “o nosso grande esforço foi concluir a obra, e o que vai funcionar aqui é o de menos. É fundamental olhar para o presente, deixar o passado, e ver que está sendo resgatado um patrimônio histórico de Belém”.
Bem... Concordamos com a necessidade de conclusão da obra, óbvio, mas temos que perceber a necessidade de um projeto amplo que vise o melhor uso da população. Isso é essencial para que o patrimônio seja valorizado e caracterize a cultura daqueles (no caso o povo de Belém) para quem o Palacete foi entregue.
Lembramos que o patrimônio cultural, material ou imaterial, está relacionado com o sentimento de pertencimento, a valorização de estruturas ou manifestações. Não adianta nada restaurar um lindo prédio antigo e deixá-lo vazio, tanto quanto pouco aproveitamento vai gerar a entrega da obra abrindo para a visitação por conta da proximidade de uma data importante como o aniversário de Belém.
Quem visitou o Palacete Pinho na cerimônia solene de entrega, percebeu um grupo de pessoas a frente do prédio olhando para aquela pomposa festa cheia de engravatados e imprensa. Percebia-se a curiosidade dos que passam por aquela rua todos os dias indo ou saindo do trabalho, no comércio ou no porto, a caminho de casa ou seguindo para outro destino qualquer, porém poucos que não sabiam da entrada franca (e quem sabe do coquetel) se aventuravam a entrar naquele espaço que é patrimônio cultural edificado de Belém, tombado em 1986 pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Patrimônio de quem mesmo, Iphan?
Louvamos, sem dúvidas, a revitalização do Palacete Pinho no bairro da Cidade Velha em Belém, e quando dizemos revitalização nos referimos conscientemente ao sentido original do termo que remete a trazer de volta à vida aquele prédio histórico que por muitos anos (sobre)viveu coberto por tapumes, sendo vítima de saques e vandalismo, além degradação pelo tempo e pelo uso inapropriado de moradores de rua. Desejamos que a iniciativa se estenda à outros prédios de relevante importância para a cidade de Belém que também necessitam de cuidado e atenção. Muito mais que a vida, desejamos que renove-se a alma do Palacete Pinho dentro de cada um dos habitantes de Belém.

Por Renata Barros - ASAPAM

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