Artistas e profissionais ligados à preservação de patrimônio histórico e artístico iniciam neste mês de abril uma campanha para colocar Belém no seleto grupo de cidades brasileiras que possuem o título de Patrimônio Cultural da Humanidade – construções, trechos urbanos e até ambientes naturais que tenham valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico. A iniciativa é do Fórum Landi, grupo da Universidade Federal do Pará (UFPA) que pesquisa o legado artístico e arquitetônico do italiano Antonio Landi na capital paraense.
A meta da campanha ‘Belém de Landi – Patrimônio Mundial’ é elaborar um dossiê e encaminhá-lo à Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (Unesco), instituição que já concedeu títulos semelhantes a cidades como Ouro Preto, em Minas Gerais; Olinda, em Pernambuco; Salvador, na Bahia e até à vizinha São Luís, no Maranhão. A intenção é que esse resultado saia nos próximos anos e seja um grande presente para Belém quando a cidade comemorar seus 400 anos.
O lançamento da campanha será realizado durante a II Reunião Internacional do Fórum Landi, que acontece junto com o VIII Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte, em memória a Benedito Nunes, entre os dias 4 e 8 deste mês, na UFPA. A medida pretende ainda aproximar o grande público da importância da manutenção e preservação das obras do arquiteto que definiu a Belém dos séculos XVIII e XIX.
Antonio Landi é marca permanente na arquitetura de Belém. O Palácio dos Governadores, a Igreja de Santana, Igreja de São João, a Igreja do Carmo e as fachadas da Catedral de Belém e do convento das Mercês são algumas de suas principais construções. O coordenador executivo do Fórum Landi, Flávio Nassar, afirma, em entrevista ao Caderno Você, que a presença de mais de 40 especialistas em história da arte reforça a proposta e coloca a capital paraense no rumo do turismo de patrimônio no Brasil.
P: A campanha ‘Belém de Landi – Patrimônio Mundial’ é também uma maneira de chamar a atenção da população em geral para a preservação do centro histórico de Belém como um todo?
R: A realização desses eventos e o lançamento da campanha reforçam a importância que essas obras têm para a cidade e a importância da preservação. Até hoje não houve ações suficientes e eficazes que pudessem garantir a sustentabilidade da área central de Belém. A população joga lixo, dilapida, quebra, ou seja, não cuida desse patrimônio. O Antonio Landi acaba sendo um anjo, um santo padroeiro que consegue mostrar sua importância e se sobrepor a essa situação tão indesejável que se encontra no entorno da área do centro histórico.
P: Qual a importância destes dois eventos?
R: Belém, de fato, é uma cidade que tem um patrimônio de qualidade e quantidade. A realização desses dois eventos, debatendo patrimônio e história da arte trará à cidade mais de 40 especialistas na área. Ao visitar Belém, eles levarão esse conhecimento e experiência e, a partir disso, podem surgir estudos novos sobre Belém. Dessa forma, tanto o VIII Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte e a II Reunião Internacional do Fórum Landi cumprem o papel de manter acesa a chama da preservação.
P: Em que formato esse pedido de tombamento chegará ao órgão competente?
R: Nosso objetivo é encaminhar um projeto à Unesco para reconhecer em nível mundial a arquitetura do Landi em Belém. Esse projeto tem uma série de procedimentos e requisitos técnicos. Por isso, que a realização da II Reunião Internacional do Fórum Landi neste momento é muito importante. Através dela poderemos conhecer as experiências de outras cidades que já possuem título de patrimônio mundial - as etapas pelas quais passaram e quais os procedimentos a seguir.
P: E é um processo demorado?
R: Sim, é um processo longo, mas que o Pará precisa, Belém precisa. É necessário que tenhamos monumentos e elementos da nossa cultura reconhecidos como patrimônio mundial. Não tomar essa iniciativa seria até uma forma de desleixo, uma forma relapsa de nos relacionarmos com a nossa cidade. Nossa ideia é que a obtenção desse registro possa ser nosso presente para os 400 anos de Belém. Por isso, é muito importante manter eventos com foco na história e patrimônio, mantendo isso sempre vivo.
P: O que exatamente a II Reunião Internacional do Fórum Landi abordará?
R: A reunião busca manter grupos de trabalho com temáticas específicas voltadas à história e à sociedade da Amazônia, educação patrimonial, gestão do patrimônio artístico, arquitetônico e urbanístico e arte e cultura visual. Sempre acompanhando as obras do italiano. Durante a reunião, serão cadastradas pessoas interessadas em participar da elaboração do dossiê do projeto, sejam profissionais ou pessoas com tempo disponível para ajudar na formação desse material.
P: O Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte já passou por algumas cidades do Brasil e de Portugal. O que ele traz de novo nesta oitava edição?
R: Em 2011, será a primeira vez que um país africano participará do evento. A partir desta edição queremos que o Colóquio se transforme num evento lusófono, envolvendo todos os países de língua portuguesa como os africanos, Moçambique e Angola; Macau, na China; e Goa, na Índia. Cabo Verde estará representado pelo arquiteto Fernando Pires; pelo reitor da Universidade de Cabo Verde, Antônio Corrêa e Silva; e pelo arquiteto e artista plástico Rosário Djosa, que estará em cartaz com uma exposição durante todo o evento, no foyer do Centro de Eventos Benedito Nunes, da UFPA. Este ano, o Colóquio tem como tema ‘O Patrimônio como Língua, a Língua como Patrimônio’ e vai destacar a linguagem como o maior patrimônio de um povo. Toda a programação de conferências, mesas redondas, mini cursos e até a parte cultural tem ligação com a linguagem.
P: O evento é em memória ao professor e escritor paraense Benedito Nunes. Como surgiu a idéia de homenageá-lo?
R: O professor Benedito Nunes tem uma importância enorme para as artes e para o Estado do Pará. Ele participaria do Colóquio, então após o seu falecimento, decidimos que o Colóquio seria em memória dele. Foi ele que abriu a primeira Reunião do Fórum Landi, em 2003, portanto teve uma ligação muito forte com o evento. Inclusive, quando confirmarmos a nova edição da Reunião junto com o Colóquio, alguns profissionais solicitaram uma visita ao Benedito, tamanha a representatividade que ele teve e vai continuar tendo para toda a sociedade.
P: Quem participará da homenagem?
R: Durante o Colóquio teremos momentos que chamamos de ‘Tributo a Benedito Nunes’, que antecedem as conferências que dão início à programação do dia. Três pessoas ligadas ao professor, amigos dele, prestarão uma homenagem falando sobre a vida do escritor e a ligação entre eles. Os participantes serão o norte-americano Kenneth David Jackson; Lauro Moreira, embaixador do Brasil junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, e o filósofo paraense Vitor Pinheiro. (Diário do Pará)
Fonte: www.diarioonline.com.br 1/04/2011