terça-feira, 24 de abril de 2012

Futuro do Cine Olympia se mantém nebuloso



Se fosse um roteiro de cinema, o destino do Olympia seria um daqueles enredos que mantém até o último minuto um suspense insondável. Mas a vida não é filme. E o futuro do secular espaço de exibição se mantém perigosamente nebuloso. “Os cinemas de rua, em Belém, não resistiram. Viraram igreja, comércio, sucumbiram. E manter o Olympia em funcionamento do modo como ele é operado atualmente se torna cada vez mais inviável”, alerta o cineasta paraense Fernando Segtowick, diretor de filmes premiados, como “Matinta”. “O que ocorre é que o Olympia ainda é um espaço privado. Para que possa ser restaurado e que um projeto de recuperação do espaço comece, de fato, é preciso tombá-lo. E isso requer um longo processo, que passa por várias instâncias”, explica a paulista Maria do Rosário Caetano, jornalista e crítica de cinema, convidada para integrar os debates sobre a história e o futuro do Olympia na programação do centenário.

O seminário, sob o título de “O Primeiro Século do Cinema Olympia: Histórias, Desafios e Perspectivas”, realizado no último final de semana, reuniu diversos especialistas locais e de fora do estado, e contou com o apoio da classe artística, na intenção de discutir, além da trajetória do mais antigo cinema brasileiro em funcionamento, que rumos ele irá tomar. O impasse que atrofia qualquer plano de ação se dá porque o espaço pertence, ainda, ao grupo Severiano Ribeiro, o maior grupo de cinemas do país.

DESAFIO

Daí começa a epopeia: o primeiro passo para reverter a situação depende do legislativo. A câmara de vereadores precisa decidir pelo tombamento do Olympia. “Esse é o passo inicial. Sem ele, nada acontece. Em seguida, viria a aquisição do espaço. O município compraria o cinema”, explica Caetano. A partir daí, viriam as parcerias com as instituições para restaurá-lo, num esforço de angariar recursos com empresas públicas, como a Petrobras, e incentivos internacionais junto ao Banco Mundial.

“O desafio ainda é muito grande, é gigantesco. São Paulo tentou com o Belas Artes, e não está conseguindo”, diz a jornalista, que acompanha de perto o imbróglio pelo tombamento do Cine Belas Artes, que já se prolonga por mais de um ano, entre decisões judiciais que ora negam, ora aprovam o pedido de tornar o espaço patrimônio cultural.

No caso do Olympia, o esforço resiste desde a década de 80, quando a sociedade civil, representada por cinéfilos e artistas, iniciou o movimento de preservação do Olympia. A saga ganhou episódio mais substancial em 2006, quando o cinema exibiu sua última sessão e seria fechado. Diante de manifestações e protestos contra o fim do funcionamento do Olympia, a prefeitura municipal alugou o local, que passou a se chamar “Espaço Municipal Cine Olympia”. “Enviamos uma proposta de ocupação do espaço que foi entregue à Fumbel. Nosso grande temor é que ele acabe perdendo sua atividade de sala de projeção e se torne multiuso. O caráter de cinema público, de janela para o cinema brasileiro, não pode se perder. É muito séria essa questão. O Brasil precisa de espaços assim”, diz Afonso Gallindo, documentarista e coordenador do Núcleo de Produção Digital do Instituto de Artes do Pará.

Entre os planos para o Olympia endereçados à Fumbel, a reforma e a restauração da sala de projeção, e a criação de um café na entrada, como havia outrora no cinema. Haveria ainda um espaço para oficinas de audiovisual, e a criação da primeira biblioteca da Amazônia especializada em cinema. “Assim, o espaço não perderia sua vocação natural, que é de exibição de filmes, e atuaria ainda na formação de técnicos e como espaço para cineclubes, para que o cinema fosse debatido e pensado. Mas o projeto não foi para frente”, lamenta Gallindo. “Mas a sociedade civil está mobilizada e não abandona a causa”, garante. Entre as alternativas mais promissoras para o Olympia, a parceria com a Universidade Federal do Pará, que traria para o projeto o núcleo do recente curso de cinema.

“O plano é criar um museu. As paredes do Olympia seriam também um espaço expositivo da sua história, da história da sociedade belenense”, explica Ana Cláudia Melo, professora e coordenadora do curso de Cinema e Audiovisual da UFPA. Para ser concretizado, o plano há de enfrentar uma longa batalha. Mas há razões para se encontrar fôlego e seguir adiante. “A comunidade está profundamente mobilizada. A universidade, pesquisadores, a associação, cineastas, atores. Quando um espaço é capaz de despertar tamanho amor em sua comunidade artística, ele não morre. Qualquer político que quiser destruir esse sonho, esse projeto, terá que lutar contra tudo isso. Então eu sinto sim que podemos ser otimistas”, diz Melo. Vale a pena apostar. Vida longa ao Olympia! 

Foto: Divulgação Cinema Olympia

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