domingo, 10 de julho de 2011

Belo centro agora é coisa do passado


Abandono de ruas históricas e bagunça são a cena do comércio
EDNA NUNES
Da Redação


O Estacionamento irregular de carros e motos, mato, lixo, falta de iluminação pública, calçadas quebradas, esgoto a céu aberto, violência e desorganização de vendedores ambulantes, muitos deles comercializando mídia pirata. Este é o cenário das principais ruas históricas de Belém. O resultado disso é que quem vai às compras no centro comercial da capital paraense sofre o incômodo de vivenciar o caos de um espaço que faz parte do patrimônio histórico, tombado pelos governos federal, estadual e municipal.
A dona de casa Sandra Albuquerque está entre os consumidores que reclamam da falta de organização do centro comercial. Ela apontou que uma das dificuldades é a ausência de espaço para que a população possa transitar.
Sandra comentou que duas situações a deixaram irritadíssima por ter ido ao comércio de Belém para comprar roupas: uma foi andar e esbarrar nas pessoas, por falta de espaço para os pedestres, apesar de não ter tanta gente circulando. A outra foi tropeçar nos paralelepípedos, alguns soltos ao longo das ruas.
Ela conta ter o hábito de frequentar a área comercial por ser um espaço onde há uma diversidade de produtos e ainda economizar um dinheiro. Sandra lamenta ver o descaso do poder público para com a Santo Antônio e da João Alfredo, porque é um lugar, enfatiza ela, "histórico de Belém e a prefeitura não dá importância para isso".
A técnica de enfermagem Sônia Maria Ribeiro, de 52 anos, também compartilha da reclamação de Sandra. Ela se diz mais indignada por saber que justamente o bairro da Campina, tornou-se esquecido pelos nossos administradores.
Apesar de entender que a revitalização do centro comercial não é apenas uma competência do gestor municipal, na opinião dela a Prefeitura de Belém deveria ser a primeira dar exemplo, inclusive mobilizando os governos estadual e federal para trabalharem juntos nesse sentido, em especial, observou ela, por abrigar o Ver-o-Peso, considerado a maior feira livre da América Latina.
Maria dos Santos Rego, de 55 anos, há 15 trabalhando na rua João Alfredo, contou que o abandono das ruas se percebe com o crescimento do mato, carros e motos estacionados irregularmente. Não bastasse isso, apontou também a falta de coleta de lixo e acúmulo de entulho.
O problema, segundo Maria, é que a Secretaria Municipal de Economia (Secon) parou de fazer fiscalização na área comercial de Belém e o carro de lixo não aparece com frequência. Por causa disso, enfatiza ela, as pessoas - mesmo trabalhadores da área -, se acham no direito de fazer o que bem entendem na via pública. "Tem gente que mesmo trabalhando aqui no comércio pensa que aqui é um chiqueiro", disparou. 

Sesan diz que limpa, mas vendedores negam

A Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) afirmou que a coleta de lixo nas ruas do centro comercial de Belém, o que inclui o corredor João Alfredo-Santo Antônio, é feita diariamente, mas no período noturno, por conta do grande fluxo de pessoas e veículos nessa área da cidade.
"Infelizmente, quando algumas lojas renovam seus estoques, antes ou após a coleta do lixo, as pessoas que descarregam os produtos jogam os resíduos, como caixas de papelão e papel, na rua. Além da coleta, a secretaria faz também a varrição das vias, de manhã e também à noite, retirando pequenos resíduos, como papel de balas entre outros, jogados pelos consumidores. A retirada do mato das vias citadas na reportagem já está na programação, e deverá ocorrer o quanto antes", garantiu a Sesan, por meio de nota.
Mas, para os ambulantes, a explicação da Sesan não corresponde com a verdade. O vendedor Adair José Rosa, há 18 anos trabalhando na João Alfredo, frisou que "abandonaram a gente, pode ver aí (rua João Alfredo) como tá tudo sujo". Ele ressaltou que quando os camelôs chegam de manhã a rua continua suja e "só para ter uma idéia nem lixeira tem por aqui".
Adair informou que no mês de dezembro, por ter muita gente no comércio para fazer as compras para as festas de final de ano, os trabalhadores se reúnem para fazer uma coleta e pagar pessoas para que façam a limpeza das ruas para não perderem a freguesia.

Estacionamentos irregulares atrapalham

Outro problema apontado pelos vendedores é a questão do estacionamento irregular nas estreitas ruas do comércio. Alguns condutores de veículos desrespeitam o direito de ir e vir do cidadão em Belém. É o que entende o aposentado Marcio Ribeiro, de 69 anos. Segundo ele, até a década de 80 era tranquilo andar pelo centro comercial de Belém, mas depois desse período a "desordem foi crescente".
Maior infração foi o flagrante feito a carros de lojas descarregando mercadoria, passando horas sem que o motorista sequer fosse chamado atenção por alguém, por não existir fiscalização.
"Nem carro, nem moto e muito menos esses carros de madeira deveriam estar aqui, porque além de danificar a rua histórica para o município, em alguns locais, deixa a gente ficar sem passagem", denunciou.
Outro problema que ele apontou foi a João Alfredo estar tomado por vendedores de DVDs e CDs pirateados instalados por quase toda a rua e uma boa parte da Santo Antônio. Ele entende que ao permitir o comércio ilegal, é como se o poder público estivesse legitimando o ato criminal.
"Não é proibida a venda de produtos pirateados? Então, por que deixam esse pessoal ficar aqui?", questionou. A proposta dele é que haja um acordo entre os governos municipal e estadual, junto aos lojistas, para que seja feito um grande mutirão em prol da revitalização do centro comercial de Belém.
Fiscalização não consegue conter pirataria

O diretor do Departamento de Comércio e Publicidade em Vias Públicas, da Secretaria Municipal de Economia (Secon), Manoel Ramos, afirmou que o órgão tem feito ações para promover o ordenamento do centro histórico de Belém. Ele adiantou que a Secon tem retornado principalmente no eixo da Santo Antônio e João Alfredo.
Ele disse que é uma preocupação da secretaria o ordenamento dos vendedores ambulantes, inclusive combater a prática dos que se aproveitam do crime de pirataria. "Mas, a nossa capacidade de combate é menor em relação à capacidade de reposição dos produtos pirateados", admitiu.
Manoel contou que a Secon tem conversado com o Ministério Público do Estado e com entidades representantes dos camelôs. Disse também que nos próximos 30 dias será criado um núcleo de trabalho, reunindo várias secretarias, para que seja feito o reordenamento do centro comercial de Belém.
O promotor de Justiça de Direitos do Consumidor, Marco Aurélio Nascimento, reforçou que o poder público não tem conseguido vencer a ação dos vendedores ambulantes de produtos pirateados. Na opinião dele, a solução definitiva para esse problema seria o combate diário, entretanto não há "técnicos e policiamento suficiente", lembrando que essa não é a única prática de crime existente em Belém.
Lojistas contabilizam prejuízos dos anos de descaso

Os lojistas também estão indignados com o descaso para com o centro comercial de Belém. Alguns contabilizam prejuízos devido à falta de conservação do patrimônio histórico. A gerente de uma loja localizada na João Alfredo, Tereza Braga, comentou que este ano está pior, porque não há policiamento e os "bandidos estão à vontade para agir, porque têm certeza que não tem policiamento".
O mais agravante, enfatizou ela, é que a iluminação de ambas as ruas estão precárias e como as pessoas temem circular a partir das 18h, os lojistas são obrigados a fechar cedo porque não têm mais clientela.
O assessor econômico da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belém (CDL-Belém), José Egipto Filho, disse que o problema no centro comercial da capital paraense é estrutural, além disso, ainda há um "descaso da gestão municipal como um todo". Para ele, é preciso que a Prefeitura Municipal de Belém equacione junto ao governo do Estado e federal para que haja a revitalização da área o mais rápido possível.
Na opinião dele, observa-se um desrespeito com a área histórica e que desde a década de 60 a CDL-Belém trabalha para coibir a existência de determinados problemas. Ele lembrou que sempre quando é chamada, a entidade participa para discutir a revitalização do comércio da cidade, entretanto ele contou que nos últimos anos não houve mais nenhuma manifestação para se discutir esse assunto.
Ele entende que a partir do momento que surgem os vendedores ambulantes no centro histórico, não há como negar a problemática social no centro comercial. Porém, enfatizou José Egipto, isso não impede de ordenar a área comercial.


José Egipto lembra que na década de 80 as ruas João Alfredo e Santo Antônio eram supervalorizadas e havia uma demanda expressiva do empresariado, sobretudo, do Nordeste, para conseguir um espaço em uma dessas duas ruas para instalar o seu negócio. Diante disso, ele espera voltar esse período para que os belenenses voltem a fazer compras com tranquilidade nessas áreas.

Fonte: www.orm.com.br/amazonia 10/07/2011


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