Mestre Vieira, de Barcarena, foi o precursor do ritmo
A guitarrada agora é patrimônio cultural do Estado do Pará. Publicada no Diário Oficial desta terça-feira (15), a Lei de n° 7.499, de 10 de março de 2011, entra em vigor reconhecendo a importância do ritmo para a cultura do estado e lhe resguardando pelas leis patrimoniais.
O RITMO
Genuinamente paraense, a guitarrada emergiu de municípios ribeirinhos influenciados por ritmos como o carimbó, o choro e até a jovem guarda, além dos ritmos latinos tocados nas rádios caribenhas - captados na frequência "AM" em alguns rádios adaptados no interior do estado.
E foi um técnico em operação de rádio o precursor do ritmo. Joaquim de Lima Vieira nasceu em Barcarena, a 40 Km da capital Belém, e tinha apenas 14 anos quando foi eleito pela Rádio Clube do Pará o melhor solista do Pará, quando ainda tocava choro no bandolim confeccionado pelo seu irmão. Consertando rádios para se manter, o reconhecimento viria quando montou a banda 'Vieira e seu conjunto', e teria o primeiro contato com a Guitarra.
Sem energia elétrica no município de Barcarena, Vieira usou o conhecimento técnico para transformar um rádio em um amplificador alimentado por pilhas, e adotou definitivamente a guitarra como seu instrumento, mostrando por municípios vizinhos sua versão instrumental da lambada. E com o lançamento do primeiro LP de seu conjunto - e suas 08 mil cópias vendidas - nascia ali a Guitarrada, e com ela, o seu precursor Mestre Vieira.
Nos anos 80 o ritmo ganhou força, e outros 'guitarreiros' surgiram. Solano (que também se auto-intitula criador do ritmo), Aldo Sena (que vendia músicas para artistas e rádios) e Curica (que fez parte do grupo de Carimbó do Mestre Verequete) também contribuíram para a popularização do ritmo, que assim como a maioria dos ritmos regionais, não conseguiu disputar espaço nas rádios comerciais e perdeu força na década de 90.
Mas no final dos anos 90, a Guitarrada voltou a ganhar força. Bandas paraenses como o Cravo Carbono assumiram o ritmo como influência ajudaram a difundir o interesse pela Guitarrada. O próprio Chimbinha, discípulo do Mestre Vieira e fundador da Banda Calypso, assumiu a influência da guitarrada em suas composições.
Assumidamente 'guitarreira', a banda La Pupuña (surgida de um projeto de pesquisa sobre as guitarradas) trouxe a renovação do ritmo, misturando batidas eletrônicas e ritmos latinos como a cúmbia e o zouk. Paralelamente, um projeto da Fundação de Telecomunicações do Pará (Funtelpa) resgatava a tradição do ritmo, com o lançamento do disco "Mestres da Guitarrada".
Idealizado pelo produtor Pio Lobato (integrante da banda Cravo Carbono na época), o projeto trouxe Aldo Sena, Curica e Vieira em uma reunião que rodou o mundo, chegando inclusive à Alemanha, em eventos relativos à Copa do Mundo de 2006. Após o fim do projeto, Curica e Aldo Sena seguiram no projeto "Guitarradas do Pará", e Vieira retornou à carreira solo.
Ainda hoje a Guitarrada influencia bandas do Pará, como o 'Caburé' e 'Félix e Los Carozos' (com integrantes do La Pupuña), e bandas de fora do estado como a 'Banda Do Amor' (RJ) e a 'Academia da Berlinda' (PE), e se ainda restava alguma dúvida sobre a importância da guitarrada, a partir de hoje ela é reconhecida por lei. (DOL)
Leia na íntegra a declaração publicada no Diário Oficial de hoje.
A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARÁ estatui e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Fica declarado como integrante do patrimônio cultural e artístico de natureza imaterial do Estado do Pará, nos termos do art. 286 da Constituição Estadual, o ritmo da GUITARRADA.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
PALÁCIO DO GOVERNO, 10 de março de 2011.
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