segunda-feira, 25 de abril de 2011

Landi, gênio criativo em Belém


Estudiosa do arquiteto bolonhês não tem dúvida sobre a qualidade da obra realizada em solo paraense

O Fórum Landi, encontro de intelectuais que tem a nobre iniciativa de iniciar uma campanha para tornar patrimônio cultural da humanidade o conjunto arquitetônico que o arquiteto italiano Antonio José Landi legou a Belém, teve sua Segunda Reunião Internacional realizada sexta-feira (22) na capital paraense.
Landi foi o responsável por inúmeras fachadas, prédios, portos e praças espalhadas pela cidade que dão charme à capital paraense. Entre os entusiastas da campanha está a professora doutora Isabel Mendonça, portuguesa que lançou mão de anos de sua vida para dedicar-se aos estudos sobre a vida e a obra do arquiteto.
A professora falou sobre a figura excêntrica de Landi e como o bolonhês chegou às longínquas terras amazônicas, sendo um dos principais responsáveis pelos traços da escola clássica italiana na região. Na reunião, Isabel dissertou de forma generalizada sobre a importância do trabalho de Landi. "Não há dúvidas sobre a autoridade de Landi. Se Belém possui um acervo impressionante de obras, que vão da arquitetura ao urbanismo, que estão em consonância com o que vinha sendo produzido na Europa, isso se deve a ele", pontua Isabel, que tem formação em História da Arte pela Universidade Clássica de Letras, de Lisboa. Ela é professora da Fundação Ricardo Espírito Santo, de Portugal, e cidadã honorária de Belém. Assina a obra "Antônio José Landi (1713 1991) - um artista entre dois continentes", resultado de sua tese de doutorado.
Em sua estadia em Belém, cidade por ela já visitada várias vezes, Isabel também participou do VIII Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte (CLBHA), que aconteceu na Universidade Federal do Pará entre os dias 4 e 7 de abril. Na ocasião, ela apresentou um estudo sobre uma coleção em prataria que faz parte do frontal do altar da Igreja do Carmo (cuja fachada é assinada por Landi). "Trata-se de um conjunto muito belo e um dos poucos que ainda está completo dos que vieram de Portugal para o Brasil".

Pesquisadora descobriu belém em londres

A professora Isabel Mendonça fala sobre suas pesquisas e como teve contato com a obra de Antonio José Landi: "Tudo começou após uma visita que fiz ao Museu Britânico, em Londres. Lá, por meio de um álbum, conheci obras de Landi que estavam localizadas em Portugal e me encantei pelos traços atribuídos por ele às construções. A partir de então, comecei a pesquisá-lo. Conheci sua trajetória: do nascimento em Bolonha, na Itália, passando por Portugal, até sua morte em Belém e tudo que ele fez pelos lugares que esteve. Visitei suas obras, fiz sua biografia e compreendi a sua importância para a arquitetura da época, principalmente por ter levado a outro continente o que estava sendo pensado e executado na Europa".
Depois de ter feito sucesso na Europa, a professora Isabel Mendonça explica como foi que o arquiteto bolonhês veio parar na Amazônia: "Landi se formou em Bolonha, lugar de vanguarda no estudo da arquitetura. Após passar por alguns lugares da Europa, ele foi parar em Portugal, onde também tem uma significativa obra. Foi lá que apareceu a possibilidade de vir para o Brasil. Como tinha espírito empreendedor e aventureiro, em 1753, aportou na Amazônia, região que estava em ascensão na época".
Isabel Mendonça explica o que a fascinou no estilo de Landi: "Sem dúvida, a qualidade artística de sua obra. Como tenho formação em História da Arte o primor dos traços e detalhes nas construções assinadas por Landi me fascinaram. Quando me deparei com o álbum no Museu Britânico foi inevitável fazer o confronto entre o que ele havia feito na Itália, em Portugal e no Brasil. 

Misterioso e empreendedor, teve engenho e fábrica de cerâmica

Durante os estudos que fez da obra de Landi, a professora e pesquisadora Isabel Mendonça teve muitas percepções do arquiteto bolonhês, que ela destaca: "Há muitos momentos na minha pesquisa que permitem perceber como ele viveu, traçar o seu perfil psicológico. Existem escritos que mostram a relação dele com a região e como ele era mesmo. Inclusive, há também relatos de outros portugueses que conviveram com ele. O que se pode presumir é que Landi era visto como ‘um louco’, uma pessoa excêntrica e que primava por aventuras. Essas características marcam sua carreira. Em contrapartida, o arquiteto era um grande empreendedor e levava isso muito a sério. Teve engenhos e fazendas. Chegou a produzir açúcar e exportar para Lisboa. Também teve fábrica de produtos em cerâmica e utilitários. Era um homem misterioso, chegou a fazer parte de irmandades. Escolhas que ele faz como arquiteto, as próprias plantas e formas, mostram que, acima de tudo, ele era um homem do seu tempo".
A professora não tem dúvida de que a obra de Landi merece ser contemplada com a distinção de patrimônio cultural da humanidade: "Trata-se da obra de um bolonhês no Brasil, numa região próxima à linha do Equador. Isso já é motivo suficiente. Landi era muito mais que um arquiteto, era um artista de formação erudita e que trouxe inúmeras novidades de sua área para o norte do Brasil, principalmente o Pará. E não é um um conjunto que só podemos apreciar por meio de livros e arquivos. A quantidade de obras dele que se resguardaram no tempo e que chegaram aos nossos dias faz com que o acervo seja palpável. É um recorte histórico diante dos nossos olhos".
Terras paraenses guardam porção europeia do artista italiano

A professora e pesquisa isabel Mendonça não tem dúvida de que, em terras paraenses, reside uma porção europeia na obra de Landi: "No caso do Pará, onde ele assina diversas obras, podemos perceber que há influência local, mas a maior parte do conjunto reflete sua posição italiana. São construções que ele nunca faria na Itália, por diferenças climáticas, de relevo e de cultura, mas os traços fundamentais são da escola de Bolonha. Um exemplo é uma vila em Óbidos, que tem características italianas, entre tantas outras construções. O grande apreço que ele tem pelo estilo italiano, que está intrinsecamente ligado à sua formação, é perceptível em sua obra".
E ela pontua obras características dos traços de Landi na capital paraense: "Temos diversas obras que mantêm o acervo de Landi intacto. O mais importante é o Palácio Lauro Sodré, pois é o mais característico de seu estilo, sendo a obra mais marcante na imagem da cidade, inclusive. Temos também a Igreja de Santana e a Capela de São João Batista. Algumas obras não são assinadas totalmente por ele, pois eram obras inacabadas, que foram finalizadas por Landi. Entres estas, a Igreja do Carmo e a Igreja da Sé. Há também obras no interior do Estado, como a vila de Óbidos e Vila de Chaves, na Ilha do Marajó. Paróquias em Cametá e Igarapé-Mirim também fazem parte do conjunto de Landi".

Fonte: www.orm.com.br/amazonia/ 25/04/2011

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